domingo, 15 de maio de 2011

''SUMMORUM PONTIFICUM'' E ''UNIVERSAE ECCLESIAE'': O QUE MUDA?

Na última sexta-feira, a Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, subordinada à Congregação para a Doutrina da Fé, do Vaticano, divulgou a instrução Universae Ecclesiae, contendo normas de aplicação da Carta Apostólica Motu Proprio Summorum Pontificum de Bento XVI, publicada em julho de 2007.

Com o motu proprio (ou seja, um decreto papal, decidido por iniciativa própria, sem consultas formais a conselheiros quaisquer), que entrou em vigor em setembro daquele ano, o Papa Ratzinger promulgou "uma lei para a Igreja universal" para regular o uso da liturgia romana anterior à reforma realizada em 1970, no Concílio Vaticano II.

Ou seja, além de celebrar a missa com o Missal Romano em sua versão atualizada pelo Concílio – cujas grandes modificações são o uso da língua vernácula de cada local, a simplificação dos ritos e o altar separado da parede, em que o padre celebra voltado para o povo –, também há a possibilidade de retomar o Missal de São Pio V, do século XVI – rezado em latim, com o sacerdote versus Deum (voltado para Deus, de costas para os fiéis), com um rito muito mais rebuscado e repleto de rubricas.

Em suma,o motu proprio de Bento XVI busca oferecer aos fiéis a opção de celebrar a Eucaristia – e também os demais sacramentos – com um missal publicado em 1570, logo após o Concílio de Trento, no contexto da Contrarreforma. O missal então publicado reafirmava dois pontos-chave para o contexto de divisão com os protestantes: a presença real de Cristo na Eucaristia e a natureza sacrificial da Missa. Além disso, reunia os diversos ritos litúrgicos da Igreja de então sob um mesmo missal.

Ao longo da história, a chamada "missa tridentina" (de Trento) sofreu poucas alterações, sendo que a mais recente ocorreu em 1962, com João XXIII, que publicou um novo código das rubricas do Cânon Romano, incluindo, na oração eucarística, uma referência ao nome de São José e eliminando a invectiva contra os "pérfidos judeus". Na bula que acompanhava o novo missal, João XXIII já fazia referência ao Concílio Vaticano II, então já convocado, que deveria propor os grandes princípios da reforma da liturgia.

Duas formas de liturgia

Portanto, com o motu proprio, busca-se atender a "diversos fiéis" – segundo a Instrução publicada nesta sexta-feira – que, "tendo sido formados no espírito das formas litúrgicas precedentes ao Concílio Vaticano II, expressaram o ardente desejo de conservar a antiga tradição". Foi ainda João Paulo II, em 1984, que concedeu a faculdade de retomar, sob certas condições, o uso do Missal Romano pré-conciliar. Quatro anos depois, Wojtyla publicou um motu proprio que exortava os bispos a serem "generosos" ao permitir o usus antiquior do Rito Romano.

Assim, com a autorização oficial de Bento XVI, explicitada e reformulada na nova Instrução, fica definido que "os textos do Missal Romano do Papa Paulo VI e daquele que remonta à última edição do Papa João XXIII são duas formas da Liturgia Romana, definidas respectivamente 'ordinária' e 'extraordinária'": ou seja, dois usos do mesmo Rito Romano, um da Idade Média e outro da Idade Moderna.

Segundo a instrução, "ambas as formas são expressões da mesma lex orandi da Igreja". Porém, "pelo seu uso venerável e antigo a forma extraordinária deve ser conservada em devida honra".

Por isso, o motu proprio de Bento XVI busca responder a três objetivos:

1. "oferecer a todos os fiéis a Liturgia Romana segundo o Usus Antiquior, considerada como um tesouro precioso a ser conservado;

2. "garantir e assegurar realmente a quantos o pedem o uso da forma extraordinária, supondo que o uso da Liturgia Romana vigente em 1962 é uma faculdade concedida para o bem dos fiéis e que por conseguinte deve ser interpretada em sentido favorável aos fiéis, que são os seus principais destinatários;

3. "favorecer a reconciliação ao interno da Igreja".

Nesse ponto, fica clara a intenção de Bento XVI de se dirigir aos chamados grupos tradicionalistas, descontentes com os "abusos e exageros litúrgicos" ocorridos após a reforma conciliar.

A reforma litúrgica conciliar

Porém, a reforma litúrgica do Vaticano II, especialmente a partir da Sacrosanctum Concilium, a constituição conciliar sobre a liturgia, publicada pelo Papa Paulo VI em 1963, buscava atualizar os "textos e ritos" litúrgicos, para que exprimissem "com mais clareza as coisas santas que significam, e, quanto possível, o povo cristão possa mais facilmente apreender-lhes o sentido e participar" em celebrações "plenas, ativas e comunitárias".

Nesse sentido, o Concílio destacava que a liturgia, embora contenha uma parte imutável e divina, também possui "partes suscetíveis de modificação", que "podem e devem variar no decorrer do tempo", caso sejam "elementos que não correspondam tão bem à natureza íntima da Liturgia ou se tenham tornado menos apropriados". Portanto, o Concílio urgia a Igreja a rever "prudente e integralmente" os ritos de então para que recebessem um "novo vigor, de acordo com as circunstâncias e as necessidades do nosso tempo".

Portanto, a diferença entre os dois ritos agora permitidos é substancial. A forma ordinária, aprovada pelo Vaticano II, atualiza a Última Ceia: a celebração ocorre em um ambiente comunitário, sacerdote e povo fiel celebram juntos e na língua local o mistério eucarístico, olhando-se face a face em torno da "mesa do altar", e os fiéis participam e falam ativamente.

No rito tridentino, os fiéis intervêm muito pouco e – como em toda a oração eucarística, rezada in secreto – nem sequer escutam o que o sacerdote murmura em voz baixa, como em um diálogo reservado entre ele e Deus. Por outro lado, os fiéis não entendem quase nada do que é dito, por ser usada uma língua morta como o latim. Elementos que o Vaticano II quis justamente superar.

E agora?

Portanto, cabem aqui algumas interrogações do porquê da retomada de uma forma litúrgica do século XVI, auge da Contrarreforma. Como questionava o monge e teólogo italiano Enzo Bianchi, ainda em 2007, após a publicação do motu proprio, não haveria uma vontade de alguns de se esconder por trás dos "véus do ritualismo pós-tridentino" para não acolher "outras realidades assumidas hoje pela Igreja, sobretudo através do Concílio"? Continua Bianchi:

Há hoje demasiada busca de sinais identitários, demasiado gosto pelas coisas “à antiga”, sobretudo em certos intelectuais que se dizem não católicos e não crentes e desconhecem o mistério litúrgico. Mais ainda: por que alguns jovens que não nasceram na época pós-tridentina e jamais praticaram como eles a missa "nativa", aquela pré-conciliar, querem um missal desconhecido? Procuram, quem sabe, um missal afastado do coração, mas praticado pelos lábios? E, se a celebração da missa responde às sensibilidades, aos gostos pessoais, então não reina mais na igreja a ordem objetiva, mas a gente se abandona a escolhas subjetivas ditadas por emoções do momento. Não há, talvez, o risco, neste subjetivismo, de encorajar o que Bento XVI denuncia como obediência à "ditadura do relativismo"?

Ficam as dúvidas, mas resta uma certeza, registrada nos anais da história da Igreja: do total de 2.178 padres conciliares – conservadores ou progressistas – presentes no Concílio Vaticano II, 2.159 votaram a favor da reforma e das mudanças litúrgicas.

Essa retomada de um missal pré-conciliar seria, portanto, uma revanche da história, decidida não pelas urnas e pelo colegiado, mas, sim, pelo descontentamento de alguns poucos influentes e determinada pela ponta de uma caneta?

(Por Moisés Sbardelotto)

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Um comentário:

Anônimo disse...

Que vergonha, sinceramente, que vergonha! Eu tenho 20 anos, nasci em uma familia católica "normal" que batiza seus filhos e vive a vida com comodidade e valores morais baseados na vidinha moderna que aceita praticamente tudo, que acha tudo lindo e não ve problema em se adequar as mudanças dos tempos, "é tudo natural.." Cresci vendo a missa nova, a missa que fez eu me declarar atéia aos 13 anos de idade, não vendo sentido nessa palhaçada toda que acontece dentro da igreja, que só iria piorar e piorar com Padre "Favo de Mel", Padre Marcelo, RCC com seu blablabla sentimental, dom de linguas (patético), Teologia da Libertação, e tantas outras coisas que envergonham e aproximam a verdadeira e unica igreja de Cristo dos protestantes. Mas como Deus não nos abandona, voltei a minha fé, a única verdadeira, Católica Apostólica Romana, fora da qual não há salvação. Voltei e conheci os tesouros da Missa Tridentina, com o padre voltado para Deus sim! Como deve ser, um rito digno, não uma festinha sem respeito nenhum pelo Deus que se fez homem e morreu por nós. Não sei se você conhece a missa tridentina, mas não há comparação, não me sinto na igreja católica em uma missa nova, os gritos, as palmas, os teatrinhos, os pedidos por dinheiro, e o sentimentalismo que não faz niguém entender o valor do sacrificio, e valor de entregar a vida a Nosso Senhor, não faz ninguém compreender a cruz, que todos devem carregar, tudo que devem abrir mão por serem católicos, porque os que se dizem católicos hoje não o são!
Você faz idéia mesmo do que seja a eucaristia? se do fundo de nossa alma entendêssemos a profundidade e também a sublimidade deste momento precioso, deveríamos ir pela fila da comunhão com a alma lavada em prantos, a face regada de lágrimas, na certeza absoluta de nosso não merecimento, tamanha a graça. Deveria ser um momento de entrega de nossa infinita miséria, no silêncio mais absoluto de nosso coração. Assim, as palmas, os risos, os abraços, tudo aquilo que dispersa nosso confinamento em Deus, deveria ser banido, para que quando o padre pronunciasse aquele "ite Missa est" (ide, a missa acabou) como que acordássemos de um sono profundo, não do corpo, mas da alma, para nela revitalizados dar início a uma outra semana, na companhia constante do nosso Jesus, Deus e Senhor. No Calvário, duas situações marcaram comportamentos: de um lado o silencioso pranto da grande Mãe de Deus, de João e das outras Maria. Alma esmagada com o mesmo Jesus, num silêncio profundo e comovente. De outro os gritos, os urros insanos dos algozes, as altercações e imprecações, o estalo dos escarros e cusparadas, as blasfêmias dos fariseus e da turba insana. As palmas, os risos, os abraços aqui, fazem quase o mesmo papel. Infelizmente! E tem gente que ainda diz "Mas não devemos chorar a morte do Nosso Salvador, ele nos deu uma chance! A salvação! Devemos celebrar" Você celebraria, cantaria e batendo palmas se o seu pai, num assalto, entrasse na sua frente para levar um tiro e assim morrer no seu lugar? Acho que você não se lembraria disso com alegria.. Imagina com o nosso Deus, nosso Senhor, Perfeitissimo, que desceu dos céus para morrer como o último dos homens por causa das nossas misérias. Isso vocês não ensinam...oh não! Sermão é pra pedir dinheiro para a reforma da paróquia e falar da festinha que vai ter depois pra arrecadar mais dinheiro... Ah! Não vamos esquecer de cantar parabéns para os dizimistas, pois se não eles ficam ofendidos e não dão mais nada!