Reunidos em assembléia, os bispos do Brasil não hesitaram em confiar a presidência da CNBB ao Cardeal Arcebispo de Aparecida, D. Raymundo Damasceno Assis. Ele sucede assim a D. Geraldo Lyrio Rocha, que podendo ser reeleito, fez questão de esclarecer que não aceitaria outro mandato.
A eleição tranqüila de D. Damasceno pode ser explicada por diversas razões. Uma delas, sem dúvida, sua longa experiência pessoal no exercício de incumbências em organismos eclesiais. Por quatro anos foi Secretário Geral do CELAM, o conselho episcopal latino americano, cuja sede está em Bogotá. Durante seu mandato, aconteceu a Conferência de Santo Domingo, evento complexo no qual ele precisou repartir a secretaria com outro bispo nomeado por Roma.
Em seguida, voltando ao Brasil, D. Damasceno foi eleito Secretário Geral da CNBB, cargo para o qual foi reeleito. Nomeado arcebispo de Aparecida, se defrontou com a pesada responsabilidade de acolher os representantes da Igreja de toda a América Latina, que vinham realizar sua Quinta Conferência Geral.
Terminada aquela Conferência, o CELAM o elegeu presidente, dando-lhe um mandato de quatro anos, que está terminando justo nesses dias em que se realiza a Assembleia da CNBB, deixando-o, portanto, desimpedido para aceitar agora outro mandato, desta vez como Presidente da CNBB.
Mesmo com todas estas coincidências favoráveis que acompanharam o episcopado de D. Damasceno, a razão principal de sua eleição para Presidente da CNBB é de outra ordem, bem mais profunda.
Sua eleição vem se somar à carga de simbolismos, que Aparecida vem aglutinando com o correr do tempo, e que recebeu o selo definitivo com a decisão da CNBB de realizar suas assembléias anuais em Aparecida, junto ao Santuário Nacional dedicado à Padroeira do Brasil.
Na sua primeira assembléia em Aparecida, os bispos se deram conta do alcance desta decisão, que confirma de vez a cidade de Aparecida como o principal centro de referência da Igreja Católica no Brasil. Daqui para frente, cada vez mais, Aparecida se consolidará como a capital da fé católica em nosso país.
Aparecida preside a expressão brasileira da fé cristã. Por isto, os bispos reunidos em Aparecida elegeram para presidir o organismo que os congrega, a CNBB, o Arcebispo de Aparecida. Apesar dos muitos predicados de sua experiência, D. Damasceno foi eleito presidente da CNBB porque ele é o Arcebispo de Aparecida.
A partir desta constatação, é possível integrar melhor os outros motivos, que se somaram para confirmar esta decisão. O primeiro deles, a elaboração das novas diretrizes, de tal modo que integrassem as orientações da Conferência de Aparecida na ação pastoral da Igreja no Brasil. Portanto, de novo reconhecer Aparecida como uma referência decisiva.
Na verdade, quatro anos atrás, os bispos de outros países ficaram muito surpreendidos com a grande afluência de peregrinos que vinham ao Santuário, dando um comovente testemunho de fé. A partir deste evento, Aparecida se tornou referência para todos os países de nosso continente. Mas os bispos ficaram ainda mais surpresos com a história da devoção popular, ligada à imagem pobre, pequena, negra, cheia de mensagens que a sabedoria do povo sabe intuir e levar como inspiração de sua vida. Aparecida é uma espécie de sacramento da religiosidade popular do povo latino americano.
A eleição do Arcebispo de Aparecida como Presidente da CNBB se constituiu no último ato da proclamação de Aparecida como capital espiritual de nossa pátria, como símbolo de uma religiosidade que não tem nada de alienante. Ao contrário, que nos induz a vivenciar a mensagem libertadora da história de Aparecida, tão impregnada de Evangelho.
Brasília é a capital do país. Mas, Aparecida é a capital da Igreja Católica do nosso país.
Dom Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP) e Presidente da Cáritas Brasileira
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