Uma mulher derrama um caríssimo perfume de nardo nos pés de Jesus e os seca com seus cabelos. A Igreja não prescreve uma liturgia específica para a Segunda-Feira Santa, mas assinala como leitura do dia o texto que foi qualificado como o mais sensual dos Evangelhos e o que deu origem, indiretamente, a todos os mitos sobre Maria Madalena, que chegaram até o presente graças ao romance O Código Da Vinci. Na Igreja Ortodoxa e nas Igrejas Católicas Orientais, provavelmente mais severas, o Evangelho do dia é aquele em que Jesus amaldiçoa e seca uma figueira.
A reflexão é do jornalista espanhol Javier Morán, em artigo para o jornal La Nueva España, 16-04-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"A casa se impregnou com a fragrância do perfume", narra João no episódio da Unção de Betânia, que aconteceu "seis dias antes da Páscoa", segundo indica o evangelista, isto é, possivelmente um dia antes da entrada de Jesus em Jerusalém.
Mas quem é a mulher que unge os pés do Messias? A cena é recolhida pelos quatro evangelista, o que seria uma prova da sua veracidade histórica, mas divergem com relação ao momento, ao lugar e, sobretudo, a ungidora. Segundo João, é Maria, a irmã de Marta e de Lázaro, a quem Jesus havia ressuscitado. Segundo Marcos e Mateus, trata-se de uma mulher desconhecida, e Lucas diz que ela é uma "pecadora".
Essa diversidade de referências e o fato de que a pecadora mais célebre que acompanhou Jesus foi Maria de Magdala – da qual ele expulsou "sete demônios", segundo Lucas, e "sete demônios de luxúria", segundo uma antiga tradição – criaram um cruzamento de ideias e confusões já desde as origens do cristianismo.
Além disso, a Madalena será uma das poucas pessoas presentes durante a crucificação, uma das mulheres que descobre o sepulcro vazio e aquela à qual Jesus aparece em uma passagem "teológica e antropologicamente muito densa" (Bento XVI, em Jesus de Nazaré).
Maria Madalena estava apaixonada por Jesus? Essa é outra história. Seja quem for a ungidora, o que João acrescenta é que Judas Iscariotes, ecônomo do grupo de Jesus, protesta contra o esbanjamento do perfume. "Por que o perfume não foi vendido por 300 denários e dado aos pobres?". "Porque sempre tereis os pobres convosco, mas a mim nem sempre tereis".
Além de seu efeito sobre os mitos da Madalena, a passagem serviu para justificar, ao longo da história, que a Igreja possuía, às vezes em excesso, todo tipo de bens para o culto.
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