Um estudo feito pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo mostra que as condições de trabalho nas lavouras paulistas de cana-de-açúcar são precárias. A pesquisa tomou como base as inspeções coordenadas pela Vigilância Sanitária Estadual.
A reportagem é de Bruno Bocchini e publicado pela Agência Brasil, 05-01-2010.
De acordo com o levantamento, o trabalho de corte na maioria das lavouras de cana-de-açúcar ainda é feito manualmente, repetitivo e exaustivo. O trabalhador é submetido, a cada um minuto trabalhado, a 17 flexões de tronco, e tem de aplicar 54 golpes de facão. Segundo a pesquisa, o joelho do cortador fica todo o tempo semiflexionado, e há extensão da coluna cervical.
O estudo mostra também que não há sombra nos canaviais e o trabalhador não se hidrata adequadamente. Por dia, são cortadas e carregadas, por empregado, em média, 12 toneladas de cana, e percorrido um percurso de quase 9 quilômetros. O levantamento constatou que, no fim de um dia de trabalho, o cortador perde 8 litros de água.
A pesquisa da secretaria mostra ainda que, quanto à alimentação, os empregados não dispõem de local adequado para as refeições, que são acondicionadas e servidas em recipientes inadequados.
“Enquanto trabalham, os cortadores carregam consigo suas marmitas. Muitas vezes, o alimento fermenta ou azeda. Porém, como o trabalho consome muita energia, eles acabam consumindo a comida mesmo que esteja estragada”, diz o texto da Secretaria de Saúde.
O estudo constatou ainda que, apesar da cana-de-açúcar ter uma indústria altamente lucrativa, as condições de trabalho oferecidas são, geralmente, de qualidade ruim, “colocando em risco a saúde dos trabalhadores”.
Para a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), que representa os usineiros, as informações da Secretaria de Saúde contêm erros e conclusões equivocadas, “distantes tanto da realidade do setor quanto das posturas que o setor vem adotando há vários anos”.
“Entre os diversos erros da pesquisa, de acordo com a nota da única, está o dado que mostra que a cana-de-açúcar é cortada manualmente na grande maioria das lavouras. Na verdade, mais de 60% da cana em São Paulo são colhida mecanicamente e sem uso de fogo”, diz a entidade.
Segundo a Única, o índice de corte sem fogo cresce a cada ano, como determina um protocolo agroambiental, assinado em 2007 pelo setor sucroenergético e o governo do estado de São Paulo.
“O Protocolo prevê o fim da queima, e consequentemente do corte manual de cana em São Paulo, até 2014, em áreas mecanizáveis, que representam a maior parte do cultivo da cana no estado”. De acordo com a Unica, não há descumprimento de obrigações legais, como o não uso de equipamentos de proteção individual e a falta de água fresca.
“A entidade e suas indústrias associadas são comprometidas com o cumprimento das leis vigentes. Havendo qualquer registro de não cumprimento, a obrigação da secretaria é tomar as devidas providências com relação à empresa envolvida, inclusive garantindo à empresa o direito constitucional de defesa, o que não ocorre quando a autoridade pública opta por primeiro disseminar generalizações que atingem injusta e levianamente todo um setor”.
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