segunda-feira, 17 de agosto de 2009

JOVENS CATÓLICOS ACEITAM A IGREJA ASSIM COMO ELA É

Poderíamos dizer que os jovens são o grupo mais estudado, analisado e cobiçado na Igreja católica.
Se as Igrejas fizessem leilões de seus membros, as ofertas por eles ultrapassariam o teto. Todo mundo os quer. Eles são o futuro. Ao mesmo tempo, todo mundo se questiona sobre onde eles estão e como mantê-los caso eles pensem em deixar a Igreja local.

A análise é de Tom Roberts, publicada no sítio National Catholic Reporter, 14-08-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Em entrevistas no começo deste ano com jovens católicos (grande parte estava em seus 20 e 30 anos, sendo que dois estavam na metade de seus 40), na paróquia Nossa Senhora de Czestochowa, em Jersey City, em New Jersey, ficou claro que algumas idéias sobre a participação na Igreja são definitivamente a especificidade com relação à idade ou geração. Os católicos mais jovens parecem relutantes com relação ao uso de etiquetas como conservadores ou liberais a descrição de si mesmo ou de outros, enquanto as piedades tradicionais e a própria tradição da Igreja podem desempenhar um papel importante na decisão de alguém a ser católico.

Reunidos ao redor da mesa, todos aqueles que tiveram a chance de se tornar ativos em uma comunidade católica particular disseram que gastaram pouco tempo preocupando-se com questões hierárquicas ou muitas das questões ardentes que podem preocupar pessoas de uma geração mais velha. Em termos gerais, eles optaram pelo catolicismo por um conjunto de razões e, mesmo que não ignorem os problemas ou controvérsias, não permitem-lhes entrar no caminho de sua participação na vida da Igreja.

Independentemente de suas inclinações ou trajetória no catolicismo, eles apresentam pouco fundamento sobre o que a Igreja pode basear suposições hoje. "Eu acho que a Igreja deve merecer pelos paroquianos que recebe", disse Bridget d'Souza, uma das jovens profissionais que participou da conversa em maio na paróquia Nossa Senhora de Czestochowa.


Ela estava descrevendo um tipo de atitude de livro mercado na seleção de paróquias que se aplica a grupos de todas as gerações, mas particularmente aos jovens sem laços permanentes com um bairro ou uma diocese. Os pastores já não podem garantir uma comunidade por causa da geografia. As pessoas vão aonde elas se alimentem espiritualmente, disse d'Souza, e podem se sentir proprietárias da paróquia e de suas atividades.Não era assim quando se crescia em um lugar, disse, em que as pessoas viviam em suas casas durante décadas e em que a participação na Igreja era determinada pelas fronteiras paroquiais.

A perda dessas fronteiras físicas parece simbólica para linhas e categorias mais profundas que se tornaram menos distintivas no que se refere a decisões sobre questões maiores: se é preciso ser religiosos e, especificamente, católicos.

Mesmo que as histórias de oito ou mais pessoas reunidas ao redor da mesa na paróquia Nossa Senhora de Czestochowa dificilmente constitua uma amostra científica de opinião, é razoável sugerir que eles também não são uma amostra aberradora. Se eles são pelo menos indicativos do que está ocorrendo entre os jovens de 20 e 30 anos, os líderes da Igreja têm que levar a sério o futuro da instituição.

Os católicos de nascença estão descobrindo razões tanto para continuar em sua fé quanto para redescobri-la, e aqueles de outras fés (nesse grupo, um ex-presbiteriano e um ex-luterano) encontraram razões para participar, apesar de todos os escândalos e, às vezes, debates contenciosos dentro da Igreja.

O grupo de Nossa Senhora de Czestochowa foi reflexivo de algumas das descobertas de estudos recentes. Em "American Catholics Today: New Realities of Their Faith and Their Church", os resultados de um estudo realizado por quatro sociólogos católicos proeminentes, os jovens adultos católicos são descritos como diferentes das gerações anteriores em sua atitude com relação às autoridades civis e religiosas. "Foram ensinados e pensar por si mesmo" e a "assumir responsabilidades pela sua própria relação com Deus".

Enquanto uma "considerável minoria" de jovens católicos, estimados em cerca de 20%, são profundamente religiosos, participando da missa e da confissão regularmente e considerando-se "ortodoxos", muitos são menos rígidos em sua observância. "Como eles acreditam em Deus, na Encarnação e na Ressurreição de Jesus, e em Maria como Mãe de Deus e como eles fazem tudo o que podem para amar seu próximo, eles não se sentem obrigados e ir à missa uma vez por semana, ir à confissão a cada ano ou mesmo casar na Igreja", de acordo com o estudo American Catholics.

Claro, as linhas mais cuidadosas das pesquisas sociológicas se tornam menos precisas na vida real.
Ryan Smith tem 25 anos e cresceu em uma família presbiteriana em Erie, Pensilvânia, mas foi para a Seton Hall University para fazer seu mestrado e se converteu ao catolicismo quando estudava lá. Ironicamente, em uma era em que muitos católicos descrevem-se como contenciosos dentro da Igreja, umas das coisas que atraiu Smith ao catolicismo foi o dissenso que pode existir sem separação. "Uma das coisas da fé protestante que não me atraíam eram as picuinhas", disse. No catolicismo, afirmou, "não é 'vamos nos dividir e ir aqui ou fazer isto'. Há um forte centro em que todos se seguram".

"E então havia o ensino social da Igreja. Minha especialização na graduação era em pobreza e desenvolvimento econômico e coisas como essas. O ensino social da Igreja teve um papel enorme para que eu entrasse para ela".
Na semana posterior à entrevista, disse Smith, ele se dirigiria para Alexandria, Virgínia, para começar a trabalhar para a organização Catholic Charities USA.

D'Souza e seu esposo, Devantin, são membros da paróquia Nossa Senhor de Czestochowa há três anos. Ambos são católicos de nascença. Ela cresceu em New Jersey e dedicou seu tempo aos grupos voluntários dos jesuítas logo depois da faculdade. Ele é de Bombaim, Índia, chegou aos EUA em 2001 e se mudou para New Jersey em 2005, no ano em que se casaram. Eles se conheceram na escola de administração em Washington e no momento da entrevista estavam trabalhando como consultores da empresa de negócios Deloitte and Touche, de Nova Iorque.

Na faculdade, disse, ela lutou durante um período em que ela se questionava: "Será que eu tenho que ser católica? Será que eu gostaria de irpara uma denominação protestante?".Ela disse ter sentido frustração com relação a questões como os abusos sexuais e a crise financeira, o que mostra que "você não é tão capacitado assim como é em outras áreas, como como seu governo civil por exemplo".

No final, porém, foi o estímulo de "uma tradição que remonta há dois mil anos" que "me trouxe para a Igreja".
Ela percebe um certo poder na tradição, na missa e na eucaristia. "Há algo lá que é tão poderoso, e que acho que a Igreja nutriu isso. Eu acho que a Igreja incorpora isso". Na cultura mais ampla, ela mencionou a Catholic Charities e todas as outras coisas que a Igreja faz. "Eu acho que muitas pessoas não são conscientes disso. Se fossem, todas as outras coisas que são vistas como negativas não precisariam ser proporcionalmente tão negativas na minha opinião".

James Porter, 23 anos, recém completou seu mestrado em Seton Hall University em diplomacia e relações internacionais. Seu contato com os jesuítas no Loyola College, em Maryland, influenciou seu envolvimento com a Igreja. Com relação às questões divisivas dentro da Igreja, ele disse que "há coisas com relação à Igreja católica que estão fora do meu controle. Eu não posso fazer nada com relação a isso, e isso não afeta a minha fé e a minha crença em Deus. No final do dia, não afeta se eu vou à igreja ou não".

Mas há um sentido, disse Carol Vanhouten, convertida do luteranismo e bibliotecária de uma faculdade em Manhattan, em que todos nós fazemos algo a respeito quando "não abandonamos" a Igreja por causa de escândalos ou outros desacordos. "Decidimos que queremos tentar torná-la melhor, ficando. As boas pessoas que ficam são as que fortalecem a Igreja como um todo. Eu acho que fazemos uma espécie de contribuição dessa forma".

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