segunda-feira, 8 de junho de 2009

A FESTA DA COLHEITA

Há tempo para tudo: há o tempo de plantar e o tempo de colher (Eclesiastes)

O tempo está favorável para celebrar a vida, festejar as conquistas, resgatar experiências de organizações e de lutas populares. É tempo de colher e de perseverar na construção de um Outro Mundo Possível.
A Festa da Colheita dos frutos da terra e da vida é o momento de lembrar e comemorar tudo o que foi plantado e, hoje, pode ser colhido. É preciso contar para os filhos de nossos filhos o que aconteceu. Muitas sementes foram lançadas na terra e nas gentes: a semente da luta pela Reforma Agrária, da conscientização do meio ambiente, da luta pelos povos da Amazônia, da dignidade, da Cidadania, do arroz, milho, feijão e paz.
Festejar é sinal de valorização e partilha das experiências das Comunidades Rurais de pequenos agricultores e agricultoras, de onde brotam e florescem projetos de Esperança. Esperança de conquista da autonomia, soberania, cooperação, solidariedade, respeito à natureza e à vida em plenitude.

Viva a colheita de todos os frutos da terra e da vida!
A Diocese de Goiás com sua atuação pastoral coordenada por D. Tomás desde 1968 e com a continuidade do trabalho garantida por D. Eugênio o novo bispo, tornou-se símbolo nacional e internacional de luta pela Reforma Agrária.
Aliada dos camponeses, a Igreja de Goiás também passou a enfrentar a perseguição, pois sua palavra estava carregada de profecia. Como era possível se calar, se a palavra ardia dentro do peito? Como não ser apoio daquele que estava sendo explorado e submetido à indignidade? Não havia outra resposta se não a de retransmitir a Palavra de Deus: "Eu vi a opressão do meu povo, ouvi seus gemidos e desci para libertá-lo" (Ex. 3).

A luta dos posseiros, arrendatários, meeiros e assalariados foram se identificando com a história de luta e libertação do povo de Israel. Com isto, os camponeses romperam com a ideologia latifundista e passaram a creditar que a vontade de Deus era vê-los com seus direitos resguardados e a justiça realizada.
A luta e a conquista dos camponeses do Córrego da Onça, em Itapuranga, que desafiou oligarquias e a criação da tão chamada oposição sindical, foram sinais de que os camponeses haviam tomado a decisão de se organizar para modificar a trajetória de sua história. Há! Como estes passos foram discutidos, cantados, celebrados e rezados! E o Senhor abençoava o seu povo e o conduzia na sua luta para romper a opressão.

Mas, com o arrocho da ditadura militar e a implantação do modelo desenvolvimentista, que forçou a entrada do capital no campo, expulsando milhões de camponeses da terra, desestruturando a economia e a cultura destes eleitos de Deus, a luta pela conquista da terra passou a ser vital para os lavradores sem terra.
A conquista das Fazendas Estiva ou São João do Bugre, da Fazenda Mosquito e da Fazenda São Carlos foram marcos importantes e serviram como base de lançamento da vitoriosa luta pela terra no município de Goiás e na região, pois, aqui, o rosto geográfico e cultural era o latifúndio, hoje, o município de Goiás e boa parte da região estão cortados pelos assentamentos, compondo a nova fotografia geo-político-cultural. com 23 assentamentos e, aproximadamente, 1.500 famílias assentadas.

Os lavradores criaram suas organizações e definiram, como melhor caminho, a sua autonomia em relação à CPT da Diocese de Goiás e à própria Igreja. Esta postura dos Movimentos camponeses na região foi saudável para todos, principalmente, para a CPT, que voltou a canalizar seus esforços na animação, formação e articulação dos camponeses para reforçarem suas organizações e, inclusive, fazendo nascer outras formas de organização destes trabalhadores..

Toda esta caminhada feita pelos camponeses deixou muito sofrimento e perdas. Houve assassinatos de trabalhadores, torturas, perseguições... A Igreja de Goiás teve em seus olhos uma ferida provocada por tiros de espingarda. Mas a fé em Jesus, o Cristo, impôs a certeza de que as chagas não apagam o brilho da ressurreição e nem o da conquista dos camponeses.
O movimento político econômico atual impõe novos desafios e redefinições de estratégias de ação nesta caminhada profética da CPT, o que, certamente, será objeto de profunda reflexão e deliberação neste "grande encontro".

É nesta esperança, nesta certeza, nesta fé que a CPT e a Igreja de Goiás, de corações abertos, convida à todos os camponeses, camponesas e a todos que estão comprometidos com a luta pela Reforma Agrária a participarem da VI Festa da Colheita. Esse evento acontecerá no dia 13 de junho 2009, no Assentamento Ferreirinha (Dom Tomás Balduíno) na Cidade de Goiás. É a primeira vez que uma Festa da Colheita vai ser realizada dentro de um Assentamento de Reforma Agrária Será uma grande festa com a participação das famílias assentadas bem como de agricultores familiares organizados da região. Troca de informações sobre produção de sementes e a questão dos transgênicos. Momento de reflexão sobre a política agrícola e agrária nacional; apresentações culturais e acima de tudo um resgate da produção familiar como alternativa à produção do Agronegócio.

[Esse texto é parte do documento ‘Valorização da Agricultura Familiar na Região de Goiás - VI Festa da Colheita’, enviado por Aguinel Lourenço, Coordenador da CPT Diocesana e Coordenador da VI Festa da Colheita]

IMPRIMA ESTE TEXTO

Nenhum comentário: