segunda-feira, 1 de junho de 2009

ÁGUAS QUE FALAM

É tempo de inverno, é fim de inverno, com muita água que desce do céu, enche os rios, ameniza o calor, levando fertilidade para o sertão, esperança e alegria para o roçado. Águas que correm! Águas que falam! É tempo de ouvir as águas! As águas das chuvas que se transformam em águas do Poty e do Parnaíba, querem falar da beleza da vida, querem ser apenas berço da vida, fonte de alegria e esperança na cidade e no campo, fazendo germinar e florir, sem jamais destruir. Entretanto, essas mesmas águas, conforme a canção, transformam-se em “lágrimas na inundação”.
As águas do Poty e do Parnaíba que cantam e encantam nos questionam e interrogam, na inundação, revelando a face triste da miséria e da pobreza que se assentam às suas margens. Águas que denunciam com furor as condições precárias das habitações, a pobreza e miséria de nossa gente, a situação ameaçadora das áreas de risco. Águas que clamam pela preservação da natureza, denunciando a devastação ambiental e a poluição, destruindo a nossa casa comum, que deveria permanecer “planeta azul”. Águas que gritam através das enchentes à espera de respostas traduzidas em políticas públicas de prevenção às enchentes, em gestos de compaixão e solidariedade, tornando o mundo mais humano e a sociedade justa e fraterna, segundo o querer de Deus. A situação que estamos vivendo no Piauí e em grande parte do Norte e Nordeste deve ser objeto de atenta análise e reflexão; seu caráter sócio-ambiental não permite que seja reduzida simplesmente a mais uma catástrofe natural.

Trata-se de um sinal a ser interpretado com consciência crítica, serenidade e responsabilidade, em seu múltiplo significado: social, ambiental e ético, exigindo medidas que ultrapassam as iniciativas pessoais e emergenciais. Para diminuir o impacto dos fenômenos naturais é preciso prevenir e planejar. Ás águas das enchentes nos impelem a refletir e a agir, de modo a prevenir a sua ocorrência e diminuir o seu impacto social, por meio de políticas públicas que contemplem a justiça social, a ocupação urbana e a preservação ambiental, bem como, através de iniciativas da sociedade civil. Diante dos sofrimentos causados por catástrofes naturais ou injustiças sociais, é preciso traduzir comoção em ação solidária. É tempo de um grande mutirão de solidariedade em favor das vítimas das enchentes. É tempo de parar para ouvir as águas. É preciso escutar! Responder é preciso! Para que as águas do Poty, assim como as águas do Parnaíba, conforme o Hino do Piauí, “rio abaixo, rio arriba, espalhem pelo sertão e levem pelas várzeas e chapadas” apenas “canto de exultação”.

D. Sergio da Rocha, Arcebispo de Teresina

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