"A gargalhada dos homens de preto, acrescida de vaias, aconteceu há pouco, na Câmara dos Deputados. Foi em plena votação do Código Florestal que, mais do que permitir, sacramenta os desmatamentos em milhões de hectares de florestas. Alguém, no exato momento da apuração das urnas, ao microfone, anunciava o martírio que acabava de ocorrer, em plena Amazônia, de um casal de lideranças populares, denunciadoras de agressões desenfreadas por parte de assassinos da natureza", escreve Antonio Cechin.
ntonio Cechin. é irmão marista, miltante dos movimentos sociais, autor do livro Empoderamento Popular. Uma pedagogia de libertação. Porto Alegre: Estef, 2010.
Olhos com um mínimo de sensibilidade, será que conseguem resistir às lágrimas, ao contemplar uma imagem do cacique caiapó Raoni Metuktire em pranto desatado, quando lhe deram a notícia do início das obras na usina hidrelétrica de Belo Monte, no coração da querida floresta amazônica ?...
Um cristão, melhor, um religioso da Ordem de São Francisco, melhor ainda, um bispo da Igreja Católica chamado Dom Luís Cappio, para além das lágrimas, há um par de anos, acionou sua vontade política em favor de outro manancial. Daquela vez foi pelo Rio São Francisco. Partiu para uma greve de fome sem retorno, a ponto de alarmar ao mesmo tempo Vaticano e Presidência da República do Brasil.
O bispo, um cristão de fato e de direito. O chefe indígena, um selvagem?... um primitivo?... nada mais que um botocudo?... um grosso?... Que outros adjetivos os “caras pálidas” seriam capazes de assacar contra a figura deste morubixaba mil vezes venerável, soluçando de dor e compaixão, em solidariedade à sua e nossa Mãe-Terra?...
O botoque de 8 centímetros de diâmetro que ostenta no lábio inferior, marca registrada de seu povo, faz jus à tradição guerreira da tribo caiapó. Hoje, face à absoluta impotência de apelar para uma guerra tribal contra o legítimo selvagem-homem-branco, que arrota civilização enquanto assassina a mãe natureza, a única alternativa para o pobre índio é choro convulsivo. Sinaliza dessa forma sua vontade política de defender, ao menos para o povo da floresta, a integridade do manancial ameaçado em sua querida Terra das Palmeiras, a Pindorama cantada em prosa e verso que, para os “civilizados”, iniciou como Ilha da Vera Cruz, depois continuou como Terra da Santa Cruz, para consagrar-se definitivamente como Terra Brasilis ou simplesmente Brasil.
Um dos fatores que talvez tenha contribuído fortemente para este nome definitivo, foi o fato dos invasores se terem transformado em escravocratas das populações nativas. Criaram vergonha de tê-la batizado como Terra cristã. Inauguraram assim, com o próprio nome da terra, o processo de laicização do país, que hoje insiste até na retirada do crucifixo das repartições públicas. Esquecem que o sinal cristão está inseparávelmente ligado ao atestado de nascimento ou “achamento” do Brasil para Portugal, segundo o evangelho de Pero Vaz de Caminha, quando enviou a Boa Notícia ao rei do “jardim à beira-mar plantado”.
Mesmo que os fanáticos do estado leigo consigam retirar todos os sinais de cristandade que estão disseminados pelos múltiplos aspectos da nossa cultura, com certeza não conseguirão arrancar do céu a constelação do Cruzeiro do Sul. Ao rebrilhar à noite – como diz a canção – essa Cruz celeste, para rio-grandenses índios, afro-brasileiros e pobres em geral, ela é também sinal de nosso herói mártir missioneiro São Sepé Tiaraju. Tendo derramado seu sangue todo por seus irmãos guarani “tomou no céu posição” nas palavras de Simões Lopes Neto, criador do gauchismo de raiz que aqui chamamos de missioneirismo.
Brasil – todos sabemos de sobejo – é vocábulo que, proféticamente, exprime com perfeição o que durante séculos estamos fazendo com estas terras, “abençoadas por Deus e bonitas por natureza”. Sem solução de continuidade, nos 510 anos de “civilização” branca, continuamos levando as florestas de roldão, a ferro e fogo, transformando tudo em brasa, torrando o próprio solo com agrotóxicos, no rumo de um tal “Brasil pra frente”, deixando atrás de nós um rastro de devastação. Na prática, fazemos nosso o lema de Luís XIV da França, “depois de nós, o dilúvio”. Mais realistas ainda que o rei-sol, “atrás de nós, o deserto!”
Em questão de preservação ambiental, nosso progresso de 500 anos parece se resumir em pau brasil. As florestas reduzidas a paus para fabricar para a classe dominante, corantes, ou carvão, ou para serem substituídas pelo soja, cognominado “ouro verde” pelo capital. Tudo reduzido a combustível para a sociedade de consumo.
A fim de dar o derradeiro e definitivo nome de “real” à nossa moeda, recuou-se ao tempo do Brasil-Colônia, quando deveríamos ter recuado mais um pouco, até aos dias da “descoberta”. Para tanto, nada de mais autêntico e verdadeiro do que o jeitinho popular quando, em vez de 10 ou 20 reais – então moeda do “rei” – o povo se expressa até hoje falando dez paus e vinte paus. É que, em 1500, com moeda brasileira inexistente do lado de cá do Atlântico, a base da troca ou da compra e venda era o pau-brasileiro, daí o valor equivalente a 10 ou 20 “paus-brasis”. Somos todos aqui brasileiros. Etimológicamente somos todos paus reduzidos a brasas e carvão. E não foi a isso mesmo que reduziram os pobres habitantes dessa nação durante séculos? Outros usam também a expressão “bucha de canhão”.
Na transparência da imagem do chefe indígena, se fizermos a leitura com vistas cristãs da foto de Raoni, podemos facilmente vislumbrar a cena evangélica do Homem Jesus de Nazaré chorando sobre Jerusalém, sua querida cidade, a santa Sião. As lágrimas do Filho do Homem prenunciavam destruição e morte. Em meio aos soluços, o Mestre mal e mal conseguia balbuciar algumas palavras: “Jerusalém, Jerusalém!... Assim como a galinha esconde seus pintinhos debaixo das asas, assim eu quis fazer com os teus filhos!... Tu porém não quiseste conhecer aquele que podia te trazer a PAZ! Teus inimigos te cercarão de trincheiras e não deixarão em ti pedra sobre pedra!” Aqui Ele chora pela sua cidade capital. Alhures chorou sobre pessoas amigas como Lázaro e Maria. Na sua paixão, mandou chorar sobre todas as gerações quando viu mulheres aos prantos por causa dele: “Não choreis sobre mim. Chorai antes sobre vós e sobre vossos filhos”. Nosso profeta caiapó chora também hoje, sobre filhos e netos das gerações atuais, prevendo os sofrimentos terríveis que sobrevirão no futuro, se continuarem as devastações atuais.
Em pleno ano de Campanha da Fraternidade em que prcuramos nos conscientizar sobre preservação ambiental nas catequeses, nas missas, nos círculos bíblicos, nas meditações, nas paraliturgias, etc. centenas de vezes pronunciamos o mote paulino: “a natureza geme em dores de parto, enquanto espera a manifestação dos filhos de Deus”.
Já naquele tempo do apóstolo Paulo, no século primeiro da era cristã, a natureza gemia aguardando a manifestação dos humanos como filhos de Deus. Como filhos de um Pai Criador, fomos investidos da missão de cuidar da casa-natureza, também de origem divina como nós. Hoje, no dealbar do terceiro milênio da era cristã, com a vantagem sobre nossos antepassados de estarmos iluminados também pela teoria científica de Lovelock, nossa casa planetária é um ser vivo, ao qual foi dado o nome de Gaia. Essa teoria, até empiricamente pode ser comprovada pelo fato do astro-nossa-casa estar vivificando trilhões e mais trilhões de organismos vivos, visíveis e invisíveis. Podemos observar a olho nu, ouvir com nossos ouvidos os sons da vida, com nosso olfato sentir-lhe os perfumes, com nossa sensação táctil sentir-lhe as suavidades, e com o sentido do gosto experimentar-lhe as doçuras dos frutos. Somente Vida pode gerar outras vidas.
Hoje, em nossa casa comum, aqueles gemidos de vinte séculos atrás, se transformaram em gritos lancinantes, concretizados em tsunamis, enchentes, desmoronamentos, ressacadas, vulcões, mudanças climáticas, etc. O que representam todos esses “sinais dos tempos” senão berros desesperados de Gaia, em tudo semelhantes aos dos animais a caminho do matadouro. Nosso cancioneiro guasca imortalizou em versos repetitivos ad nauseam, os berros do gado a caminho da charqueada, ao estilo de um mantra. Trata-se dos “Homens de Preto”, cuja autoria é de Paulo Ruschel:
“Os homens de preto, os homens de preto,
os homens de preto
Os homens de preto trazendo a boiada
Vêm rindo, cantando, dando gargalhada
Deus, Deus, Deus, Deus, Deus, você fez
Os homens de preto trazendo a boiada
Vêm rindo, cantando, dando gargaiada
E o bicho coitado não pensa em nada
Só vai pela estrada direito à charqueada
Deus, Deus, Deus, Deus, Deus, você fez
Os homens de preto trazendo a boiada
Vêm rindo, cantando, dando gargalhada
Deus, Deus, Deus, Deus, Deus, você fez
Os homens de preto trazendo a boiada
Vêm rindo, cantando, dando gargalhada
E o bicho coitado não pensa em nada
Só vem pela estrada, vem, berrando, berrando,
vem berrando
O gado coitado, nasceu, foi marcado
Aí vai condenado na estrada berrando
A querência deixando
Os homens marvado empurrando e gritando
Toca boi, toca boi
O gado coitado, nasceu foi marcado
Aí vai condenado direto a charqueada
Mas manda a poeira no rumo de Deus
Berrando pra ele, dizendo pra Deus
Deus, Deus, Deus, Deus, Deus, você fez
Os homens de preto, empurrando a boiada
Vêm rindo, cantando, dando gargaiada
Deus, Deus, Deus, Deus, Deus, você fez”
Parece incrível, mas essa gargalhada dos homens de preto, acrescida de vaias, aconteceu há pouco, na Câmara dos Deputados. Foi em plena votação do Código Florestal que, mais do que permitir, sacramenta os desmatamentos em milhões de hectares de florestas. Alguém, no exato momento da apuração das urnas, ao microfone, anunciava o martírio que acabava de ocorrer, em plena Amazônia, de um casal de lideranças populares, denunciadoras de agressões desenfreadas por parte de assassinos da natureza.
A gargalhada grosseira e desumana foi a resposta dos deputados representantes do agro-negócio, antecipando a vitória legislativa em ação, com absoluta certeza de impunidade. Consumavam assim com risadas escandalosas, o holocausto de irmãos nossos, heróis e santos mártires ao mesmo tempo, pela causa da preservação da natureza, a Pachamama do ameríndio Raoni. Todos com direito a monumento em praça pública e estátua em cima de altares. Passará para a história esse episódio emblemático relacionado ao código famigerado, um “case” como dizem hoje os inglesistas.
A opinião pública brasileira – a começar pela própria Câmara Federal e pelos formadores de consciência desta nação – revela a defasagem em que estamos em relação às principais organizações mundiais que defendem o meio-ambiente. Ignoramos a elevação do patamar a que se alçaram para uma guerra contra os matricidas da Terra planetária.
Até ontem, o lema dos ativistas em favor do meio ambiente era “pensar globalmente e agir localmente”. Hoje, numa etapa de maior degradação do Planeta, com riscos sempre maiores de extinção da espécie humana, o próprio lema saltou para um nível superior. Emparelhou com as campanhas que procuram responder às novas realidades. Hoje dizem todos os conscientizados, devemos “pensar localmente e agir globalmente”. O lema desse jeito, com a troca de lugar dos respectivos advérbios, é mais realista em relação às tragédias que até ontem eram raras e de pequenas consequências, mas que hoje, são cotidianas e terríveis em termos de destruição. É Gaia se defendendo a partir das leis “naturais” com que o altíssimo o dotou.
O novo enfoque em resposta aos sinais apocalípticos, pressionou para a mutação da frase-guia dos amigos da Terra. Do “pensar globalmente”, passou-se ao “pensar localmente” e do “agir localmente” passou-se ao “agir globalmente”. Devemos sim, agir globalmente porque todos moramos na mesma casa terrena. Se o prédio de que somos todos moradores ameaça ruir devido a seu péssimo estado de conservação, as tarefas do conserto quantitativo e qualitativo, são de absolutamente todos. Ou nos salvamos juntos ou não se salva ninguém. E se lutamos organizados, numa frente única universal, poderemos hierarquizar as lutas e atacar primordialmente as mais decisivas para a preservação da Vida. Do contrário, se permanecermos em nosso “agir localmente” podemos nos perder em pequenas escaramuças locais, a chamada guerra de pequena intensidade ou guerrilha, sem muita significação quando somos acuados globalmente pela iminência da morte.
A Sociedade Brasileira de Proteção à Ciência (SBPC) foi acusada pelo deputado relator do arremedo de código florestal, de ser uma entidade anti-nacionalista, a reboque de entidades internacionais. A senadora Marina já chamara ao relator e àqueles que aprovaram o famigerado instrumento jurídico, de atrasados. Dilma, nossa presidenta da república, por sua vez, que a “façanha” da aprovação pela Câmara, se havia constituído em vergonha nacional.
Como dizíamos acima, a falta de visão da maioria dos formadores de consciência e em espcial de nossos deputados federais é fato emblemático porque nenhum dos colegas deputados se lembrou, na réplica ao relator do partido comunista, do “agir globalmente”, hoje obrigatório e mais do que meritório para quem pensa preservação do meio ambiente. A Humanidade inteira deve lutar unida, como se fosse exército de um homem só, contra o desmoronamento da casa universal. Pruridos nacionalistas só podem ser de gente com passo errado em nossa ordem unida.
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência do Brasil (SBPC), também gastou saliva inútil, defasada que também está em relação ao lema espraiado em grau máximo para o âmbito universal. Quando replicou aos assaques do relator do malsinado código, defendeu-se pedindo provas de que estaria ligada a uma só que fosse entidade estrangeira. Pena que não ampliou sua resposta afirmando com ênfase para o caráter mundial da luta científicamente ecológica, isto é, com o agir global que está no lema dos ecologistas do mundo inteiro e que, com isso, a luta ganhou um patamar mais alto e mais condizente com a modernidade.
Retornando às lágrimas do nobre cacique Raoni nos perguntamos: será que pode haver sobre a face da terra choro mais natural e mais universal? Natural no sentido de mais colado à natureza. Universal porque em nome de povos indígenas que como cidadãos do universo, nunca conheceram fronteiras, sem a mínima noção de propriedade particular. Povos – os índios – sem cercas, sem limites territoriais, cidadãos do mundo em qualquer lugar do em que estejam São nossos mestres em Comunidade Humana.
No agir globalmente, os povos indígenas, com mais clarividência, nos podem ajudar a pensar localmente na descoberta de todos aqueles que tem abertura para o grande universo, a fim de que, dia por dia somemos mais e mais multidões conosco, para a grande guerra da salvação de Gaya, no tempo que nos resta antes que o apocalipse aconteça. Se deixarmos as coisas como estão, nosso comportamento será em tudo semelhante ao do gado rumo à charqueada. Vamos como inconscientes ou como inocentes úteis.
Foi através de sua própria biografia que Raoni se consagrou como cidadão universal. Ele não sabe sua idade, mas de acordo com estimativas de antropólogos deve ter hoje mais de 70 anos. A palavra caiapó significa "gente ruim da mata", segundo Villas Boas. Em 1984, ele aparece em público pela primeira vez armado e pintado para a guerra a fim de negociar com o ministro do Interior, Mário Andreazza, a demarcação de sua reserva. Durante a reunião com o ministro, dá-lhe um puxão na orelha e diz: "Aceito ser seu amigo. Mas você tem de ouvir índio".
Em 1999, puxa as orelhas do presidente da Funai, Márcio Lacerda, para protestar contra a precariedade da assistência médica nos territórios indígenas. Torna-se famoso internacionalmente a partir de 1989, quando acompanha o cantor inglês Sting numa viagem à Europa, em campanha contra a invasão das áreas indígenas. Volta à Europa em maio de 2000, em busca de suporte financeiro para desenvolver um núcleo de alta tecnologia no Parque Nacional do Xingu. O projeto prevê a criação de um instituto com seu nome para abrigar um hospital, um centro de pesquisas da biodiversidade da floresta, escolas e um núcleo de comunicação ligado à internet.
Na mesma linha de uma luta sem fronteiras, temos na memória o povo guarani do Mato Grosso que por ocasião das festas natalinas do ano de 2009, viajou por toda a Europa, em busca de apoio para a demarcação de suas terras surripiadas pelos grandes fazendeiros do entorno de suas tabas, a ponto de alguns companheiros - não encontrando saída para a preservação da própria cultura - haviam optado pelo suicídio. Esse grupo em viagem, como guarani inventores do chimarrão do qual os brancos gaúchos se apropriaram indevidamente, durante toda a viagem pelos muitos países, numa terrível estação de inverno, tomavam chimarrão o dia todo e assim mesmo não conseguiam se aquecer. Apesar da carga imensa de sofrimento passaram por embaixadas, sedes de reinados, governos, personalidades importantes, o próprio Papa, etc. etc. pedindo apoios internacionais de toda espécie.
Citei até aqui apenas dois exemplos de como os povos indígenas já tem tradição do “agir globalmente” muito tempo antes que os ecologistas. É uma pena que o tão badalado “tradicionalismo” gaúcho seja tão fechado, sem abertura para a universalidade. Para somarmos com os amantes da vida, os biófilos do mundo inteiro, temos que ser tradicionalistas de raiz, isto é Missioneiros e não farroupilhas. As Missões Jesuíticas e a República “comunista” cristã dos Guarani, estão na origem do Rio Grande do Sul com as sete maravilhosas cidades, mais conhecidas como Os Sete Povos das Missões. Como missioneiros somos herdeiros da cultura de raiz, calcada na preservação ambiental e na solidariedade humana, numa experiência única de abertura total para o universo inteiro. Só como Missioneiros podemos falar do Paraíso Terrestre inicial, que os índios preservaram exemplarmente. Se temos ainda áreas intactas neste país-continente, quem as preservou para hoje e para as gerações futuras foram os povos indígenas.
Estou terminando este texto para o jornal do Instituto Humanitas Unisinos - IHU quando me chega o artigo semanal de nosso inquestionável teólogo da Libertação, o amigo Leonardo Boff. Não resisto à tentação de citar a parte do escrito que vem totalmente ao encontro da descozida reflexão que encerro:
“Lamentavelmente são sobretudo economistas que fazem análises da crise e menos sociólogos, antropólogos, filósofos e estudiosos das culturas. O que está ficando claro é o seguinte: houve um triplo descolamento: o capital financeiro se descolou da economia real; a economia em seu conjunto, da sociedade; e a sociedade em geral, da natureza. Esta separação criou uma fumaça tal que já não vemos quais caminhos seguir.
Os “indignados” que enchem as praças de alguns paises europeus e do mundo árabe, estão colocando este sistema em xeque. Ele é ruim para a maioria da humanidade. Até agora eram vítimas silenciosas. Agora gritam alto. Não só buscam emprego mas reclamam direitos humanos fundamentais. Querem ser sujeitos, vale dizer, atores de um outro tipo de sociedade na qual a economia esteja a serviço da política e a política a serviço do bem viver das pessoas entre si e com a natureza. Seguramente não basta querer. Impõe-se uma articulação mundial, a criação de organismos que viabilizem um outro modo de conviver e uma representação política ligada aos anseios gerais e não aos interesses do mercado. Trata-se de refundar a vida social.
Por mim, vejo os indícios, em muitas partes, do surgimento de uma sociedade mundial ecocentrada e biocentrada. O eixo será o sistema-vida, o sistema-Terra e a Humanidade. Tudo deve servir a esta nova centralidade. Caso contrário, dificilmente evitaremos um tsunami ecológico-social possível”. (Leonardo Boff)
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