A insustentável vida moderna nos consome, nos mecaniza, nos faz perder a nossa essência. Vejo nas grandes “necrópoles” homens e mulheres perdidos num labirinto interminável de prédios, ruas e automóveis, olhares hostis, passos rápidos e cadenciados controlados pelo tempo e pela lógica do mercado. O que fizeram de nós? Máquinas velozes de aparência humana, desprovidas de emoção e sensibilidade, distantes do grande sonho do Criador que nos criou à sua imagem e semelhança. Nascemos para o amor e para amar sem medida, por isso somos reflexos de Deus.
Nas calçadas apertadas dos grandes e pequenos centros, galgamos o nosso espaço todos os dias, todas as horas, disputando sonhos, títulos, alegrias e fracassos, selva de pedras e concretos, onde padecemos a cada instante porque nos esquecemos daquilo que realmente nos importa.
Somos seres atormentados pelo dilema da solidão, do estresse, da depressão, do desamor e da falta de cuidado. A felicidade está ali, próxima, dentro de nós, mas cegamente e inconscientemente, traçamos outros caminhos, nos deixamos seduzir por outros encantos e luzes nos distanciando em terras desconhecidas e obscuras. O dia brilha todas as manhãs, mas as noites escuras continuam a atormentar alguns de nós. Multidão solitária!
A modernidade, sem dúvida alguma, não é só desolação e infortúnio. O que seria de nós sem as inovações tecnológicas e sem as comodidades do nosso dia-a-dia. Mas quando ampliamos a questão e a analisamos numa perspectiva existencial mais ampla, perceberemos as silenciosas tragédias que abalam o ser humano hoje. A podridão dos corruptos e gananciosos, da justiça que só beneficia os poderosos e engravatados, da violência que mata e marginaliza espalha o seu mal cheiro e a sua desesperança. Quando tudo parece tristeza e desolação, brilha em pequenos sinais aqui e acolá centelhas de coragem e fé dos que acreditam no projeto libertador de Jesus Cristo.
A fé é caminho de esperança no meio de tanto caos e hostilidade. O alento da espiritualidade nos faz seguir em frente, acreditar quando tudo não parece mais possível. É, segundo Tagore, “o pássaro que sente a luz e canta quando a madrugada é ainda escura”. Essa adesão a Deus exige de nós respostas seguras e decididas para enfrentarmos os desafios da vida urbana, os desencantos da ignorância humana e a rapidez intrépida dos tempos modernos.
Riqueza e miséria, luxuosos condomínios e grandes favelas convivem lado a lado nesse inchaço urbano. Sinal de progresso ou retrocesso? Estamos mais felizes e mais realizados com todo esse desregrado crescimento? Nunca se vendeu tanto livros e folhetos de autoajuda como em nossos dias. Por que tanta angústia? Aonde nos perdemos? Somos capazes de mudar os pilares que sustentam a nossa vida e caminharmos em outra direção? Pe. Alfredo J. Gonçalves, assessor das Pastorais Sociais, disse certa vez em seus artigos:
“Esse enorme organismo que é a metrópole, diferentemente da cidade que levava em conta as finalidades humanas de conforto e bem estar, "assinala a mudança de um sistema orgânico para um sistema mecânico, do crescimento propositado para a expansão sem propósito” (idem, pág. 644). A cidade como mãe que chama e acolhe se transforma em monstro cujos tentáculos tudo devoram, até mesmo os pequenos espaços e tempos de lazer de seus trabalhadores.” Verdade incontestável!
Sejamos, pois, capazes de resgatar antigos e importantes valores que foram se perdendo ao longo da história, para que juntos construamos uma verdadeira metrópole, cujo alicerce é a autêntica fraternidade e o amor.
Por César Augusto Rocha
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Um comentário:
César, um dos maiores problemas da modernidade é que todos querem guiar as oturas pessoas, e se acham aptos para fazer isso. Ninguém quer obedecer, ser guiado; todo mundo quer mandar e guiar. O que seria o "dilema da solidão", que você mencionou? Há um erro de lógica nesse raciocínio, mas há um outro muito mais grave no parágrafo seguinte, que trata da "podridão dos corruptos e gananciosos". É mais fácil apontar o defeito do outro do que o nosso próprio. A Igreja ensina que TODOS NÓS precisamos de salvação, não só os CORRUPTOS E GANANCIOSOS, os "outros". Você percebe o problema? Pensamentos dessa "outra" Igreja possível que você mencionou alhures jogam a culpa da injustiça nos outros, e se esquecem de que NÓS TODOS precisamos de salvação.
Santidade não é exclusividade do meio rural. É possível, sim, ser santo na metrópole. Nosso modelo é Cristo! Por favor, não difunda esse ideal revolucionário materialista.
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