"A beatificação de Oscar Romero feita pelo povo não é um ato arrogante. Essa 'beatificação', sem grandes custos por parte das autoridades eclesiásticas para procedimentos caros, envia a todos uma boa notícia que quer ser o espelho do Espírito de Deus: a vida do nosso irmão São Oscar Romero nos indica como ter coragem como ele, se nos empenhamos em seguir o Evangelho de Jesus."
Publicamos aqui a declaração do movimento internacional Nós Somos Igreja, às vésperas da beatificação de João Paulo II, publicada em seu sítio italiano, 28-04-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Caras irmãs e caros irmãos que são ativos no ecumenismo, envio-lhes este Apelo convidando-lhes a celebrar a santificação do mártir São Oscar Romero no próximo dia 1º de maio. Ela foi decidida pelos povos pobres da América Latina e pelos seguidores de Jesus no mundo inteiro.
Essa celebração deve nos encorajar a entender mais a fundo o espírito do Evangelho. Ao mesmo tempo, as Igrejas dos países do primeiro mundo são estimuladas a reconsiderar o seu modo de pensar e de agir.
Vocês sabem que Oscar Arnulfo Romero, que era um conservador, foi nomeado arcebispo de San Salvador em 1977. Foi nesse período que a perseguição sanguinária dos cristãos se desencadeou em El Salvador, e Romero teve que reagir de um certo modo. Os corpos dos catequistas assassinados, dos coroinhas e dos padres, e as lágrimas derramadas sobre eles o comoveram profundamente. Assim, Oscar Romero se demonstrou, sempre mais, na sua ação pastoral, um bispo intrépido e interveio em favor dos últimos e dos que eram torturados e perseguidos. A partir daquele momento, colocou-se contra o regime político do seu país, contra o conselheiro para a segurança dos Estados Unidos e os poderosos cardeais da Cúria Romana.
Na primavera de 1979, o bispo Romero não conseguiu se fazer ouvir pelo Papa João Paulo II, que não conseguia entender o seu compromisso e que rejeitava apoiar as suas atividades. Romero manifestou a sua grande desilusão dizendo: "Não penso em voltar para Roma uma segunda vez... O Papa não me entende".
João Paulo II não se mostrou interessado nem na foto de um padre indiano que havia sido morto há pouco tempo, nem nos documentos que demonstravam a perseguição dos cristãos por parte das milícias das classes dominantes. Ao contrário, o Papa os aconselhou a encontrar um acordo com o governo de El Salvador.
São Romero da América sabia bem que estava em grande perigo. Mas ninguém o detinha de denunciar as injustiças, de excomungar os homens políticos do regime e de seguir Jesus de Nazaré, cujo ensinamento é o de resistir à violência, mas com métodos não violentos. Ele não fechava os olhos diante dos inúmeros assassinatos cometidos para eliminar os cristãos. Um dia, durante uma homilia, Romero disse: "A vingança é uma escolha que nós rejeitamos completamente. Rezemos como Jesus: Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem".
Todo ser humano é considerado filho de Deus e, ao mesmo tempo, é a Ele semelhante. É por essa razão que São Oscar Romero não hesitou em defender a dignidade de todo ser humano com uma coragem muito firme. Aos sicários pagos e aos soldados simples recrutados pela junta militar, ele dirigiu estas palavras: "Quem tortura um outro é um assassino... Ninguém tem o direito de agredir um outro homem, porque o homem é a imagem de Deus".
Um dia antes do seu assassinato, ele publicamente convidou os soldados a se recusarem a obedecer às ordens: "Em nome de Deus e em nome desse povo sofredor, eu lhes imploro, eu lhes ordeno: parem a repressão!".
Um tiro de fuzil de um sicário o atingiu enquanto celebrava a missa. Ele caiu diante do altar.
A beatificação de São Oscar Romero feita pelo povo não é um ato arrogante. Sabemos bem que é só Deus que lê no coração do ser humano, tanto que nós podemos entender só raramente as coisas com os Seus olhos. Mas essa "beatificação", sem grandes custos por parte das autoridades eclesiásticas para procedimentos caros, envia a todos uma boa notícia que quer ser o espelho do Espírito de Deus: a vida do nosso irmão São Oscar Romero nos indica como ter coragem como ele, se nos empenhamos em seguir o Evangelho de Jesus.
Roma, 28 de abril de 2011.
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