quinta-feira, 26 de maio de 2011

MODELO PAROQUIAL NÃO CABE MAIS NO CONTEXTO URBANO

Docentes e Estudantes dos Institutos de Teologia do Rio Grande do Sul refletiram sobre as grandes mudanças em todos os segmentos, níveis de fieis residentes em centros urbanos. Os debates integraram o Congresso Teológico, reunido em torno do tema “O fazer eclesial e as estruturas de ação evangelizadora no contexto urbano”, realizado de 9 a 12 de maio, em Passo Fundo, a 280 quilômetros da capital.

A reportagem é da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC), 26-05-2011.

As mudanças trouxeram mudanças que obrigam a passagem de um mundo pequeno e fechado para um universo com muitas possibilidades, caracterizado por globalização, mundialização e planetarização. Essa situação gera a sensação de que uma civilização está morrendo ao romper com o passado, as instituições tradicionais, as benesses do Estado, da religião, da família, da educação e da transmissão dos valores às novas gerações, informou o professor Roberto Zwetsch.

Alunos e professores manifestaram preocupação com o processo de urbanização mundial. Em 2007, 50,01% da população do planeta passou a viver em cidades, configurando um marco histórico de ruptura com o parâmetro rural de milhões de anos. Isso determina que a debatida dicotomia campo-cidade já deu lugar ao predomínio da cultura urbana, com todos os efeitos.

O debate suscita questões em torno da cidade como lugar agregador da pluralidade de fenômenos, substituição ou perda dos referenciais estabelecidos, nova concepção de tempo – marcado pela transitoriedade e a predominância do presente – já que no mundo urbano o tempo é crônico, condensado no presente, sem vínculo com o passado e com perplexidades na projeção do futuro.

Mais que no ambiente pré-urbano, nas cidades a mídia ganha destaque, substituindo atores importantes como o Estado e as Igrejas, e se vale do capital e da organização em redes para padronizar comportamentos na moda, na alimentação, no relacionamento, numa estrutura cultural líquida, fragmentada e virtual, adotando valores de mercado e influenciando o imaginário na vida individual e comunitária, sem preocupação ética.

A cultura urbana leva para a essa condição de predomínio o arcabouço da razão científica, da racionalidade capitalista e do socialismo real, que não soluciona problemas graves, como a desigualdade, a exclusão, a violência, a rejeição ao diferente, pano de fundo da crise de organização da sociedade.

Essa situação toca na espiritualidade humana como busca do sentido da vida, que afeta todas as dimensões, o estabelecimento de novos limites, a afirmação da alteridade e a preocupação socioambiental. Na linha de frente, as igrejas históricas enfrentam dificuldade para responder às novidades da mudança de época e de paradigma na urbanização, observaram os teólogos.

As propostas de evangelização, com as estruturas criadas, precisam ser reavaliadas e readaptadas, por estarem estruturadas no paradigma rural. O modelo paroquial cada vez mais insuficiente, precisa ser reavaliadas no novo ambiente.

Outra implicação pastoral é que o fazer teológico, nesse contexto em mudança, precisa mudar. As Igrejas que amam a cidade, em sua complexidade, se assumem como parte dela, dispondo-se a conhecer, entender e atender a cidade, em perspectiva pastoral transformadora e libertadora.

As estruturas paroquiais devem estar a serviço da cidade, assumindo seu anacronismo e compromisso em pensar, planejar e dinamizar a cidade, criando estruturas de ministérios que viabilizem a evangelização no contexto urbano e em permanente transformação.

Devem criar espaços “para partilhar e refletir as angústias, as dúvidas, os sofrimentos, os sonhos, as esperanças, as alegrias e as práticas de solidariedade da qual emana o comprometimento profético com a construção de uma cidade humana, acolhedora, samaritana, fraterna, solidária e justa, sinal de contradição ao antirreino e de encantamento no seguimento a Jesus”, afirmam.

A nova paróquia precisa desenvolver “processos formativos amplos, interdisciplinares, permanentes que auxiliem na valorização da história de cada cidade e na qualificação das lideranças eclesiais e comunitárias, para dialogar com a nova cultura urbana emergente, com as ciências, com os novos sujeitos.”

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