segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

HÁ CELIBATO E CELIBATO. UM TEÓLOGO EXPLICA A INQUIETUDE DA IGREJA

Continua levando a discussões o apelo dos mais de 150 teólogos alemães, austríacos e suíços que em resposta à “crise” da Igreja católica na Europa (crise de vocações e de fiéis) propõem uma reforma da Igreja que prevê, entre seus objetivos, a revisão do celibato eclesiástico. Na Itália um especialista do tema é o docente de Moral na Faculdade teológica da Itália central (Florença), Basílio Petrà.

“No memorandum dos teólogos nunca é usada a palavra celibato. Falam das dificuldades nas paróquias devido à relação sempre mais desproporcionada entre o número de fiéis e o de sacerdotes. Assim dizem que “a Igreja também necessita de padres casados e de mulheres no ministério eclesial”. A frase, dita desse modo, pode significar muitas coisas. Como sabemos, a Igreja católica é uma comunhão de igrejas. Há muitas igrejas católicas de rito oriental onde homens desposados são ordenados padres; na própria igreja católica de rito latino se tem sacerdotes desposados: trata-se, neste caso, de ministros desposados de confissões não católicas que foram ordenados no momento de sua conversão ao catolicismo. No que se refere ao ministério feminino, é amplamente aceita a tese que se possa chegar, como era nas comunidades antigas, à ordenação das mulheres ao diaconato. São realidades já existentes ou possíveis. Se, pois, os teólogos de língua alemã se referem à ampliação ou à atuação destas realidades, não dizem coisas escandalosas”.

“Se, ao invés, entendem algo diverso, ou seja, que os padres celibatários possam casar-se e que as mulheres sejam ordenadas padres, então propõem uma práxis que hoje não existe em nenhuma igreja da comunhão católica e nem sequer nas igrejas ortodoxas.”.

Existem em Roma pressões contrárias a uma rediscussão do celibato?

Muitos pensam que o celibato seja uma espécie de ‘conditio sine qua non’ da Igreja católica de rito latino. Isso leva a medidas estranhas. Se chega à Itália um sacerdote ortodoxo para servir os próprios fiéis emigrados, ele é ajudado. Se, ao invés, chega um padre greco-católico casado, não só não se lhe permite ser inserido no Instituto de sustentação do clero, mas se chega ao ponto de a Cúria não lhe dar a permissão de exercer seu ministério.

Quando se tornou lei o celibato?

É uma imposição que começa a estruturar-se no século XI, embora só se realize de modo pleno com o Concílio de Trento. Os defensores do celibato recordam que precedentemente existia a Lex continentiae, segundo a qual, quando homens casados eram ordenados, eram obrigados a assumir o empenho de interromper toda relação sexual com as próprias consortes. Tem-se provas desta práxis em diversas partes do Ocidente (e em alguma do Oriente), pelo menos do século IV. No início não se exigia a separação das mulheres; depois, a separação foi sempre mais requerida. Com a reforma do século XI é atacado o clero casado porque não respeitava a separação e a continência e se vem introduzindo a lei do celibato.

A entrevista é de Paolo Rodari e publicada pelo jornal Il Foglio, 10-02-2011. A tradução é de Benno Dischinger.

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