Senhor, obrigado porque tive 365 dias para amar. Hoje tenho apenas algumas horas para acertar as minhas contas não com os outros, mas comigo mesmo.
Senhor, obrigado porque tive 365 dias para promover a vida. Hoje tenho apenas algumas horas para gritar contra os políticos astutos que alienam o povo e os deixa morrer em portas de hospitais, nas prisões subumanas, na zona rural, nos quilombos, tribos, vilas, favelas e morros gritando por vida e igualdade social.
Senhor, obrigado porque tive 365 dias para perdoar. Hoje tenho apenas algumas horas para tirar do meu coração todo tipo de ódio, maldade e indiferença para com as lésbicas, homossexuais, negros, índios, migrantes, ciganos e todos os seres humanos feridos em sua dignidade.
Senhor, obrigado porque tive 365 dias para fazer caridade e construir caminhos alternativos para gerar inclusão social. Hoje tenho apenas algumas horas para não fechar os olhos diante da pobreza. Afinal, do que adiante ganhar dinheiro, ter bens e construir castelos se deparo com homens e mulheres que não tem terra para cultivar, um pedaço de pão na mesa, uma casa para morar ou o mínimo de dignidade?
Senhor, obrigado porque tive 365 dias para amar a minha família. Hoje tenho apenas algumas horas para reconhecer o meu individualismo no lar. Fui rancoroso com os meus pais e irmãos procurando colocar os meus interesses em primeiro lugar esquecendo que sou apenas uma pequena molécula neste grande universo que tem como Senhor e Mestre o Deus do povo peregrino a caminho das terras sem violência e sem dominação de grupo econômico e político.
Senhor, obrigado porque tive 365 dias para defender a vida. Hoje tenho apenas algumas horas para reconhecer que devo amar a natureza porque eu não bebo, não respiro e não como dinheiro. Mas preciso da água, do ar puro, do verde das nossas serras e matas, do canto dos pássaros e da biodiversidade para viver e ser enquanto construtor de uma nova ordem planetária.
Senhor, obrigado porque tive 365 dias para amar os meus amigos e companheiros de trabalho. Hoje tenho apenas algumas horas para reparar os momentos de prepotência e nervosismo no trabalho procurando sempre ser o super-homem, esquecendo que sou limitado e preciso da convivência em equipe para ser feliz e construir uma vida profissional.
Senhor, obrigado porque tive 365 dias para exercer a minha cidadania. Hoje tenho apenas algumas horas para aderir às lutas sociais, seja em ONGs, Sindicatos, Associações Comunitárias ou apenas usar o meu intelecto para defender aqueles e aquelas que não se calam diante da corrupção, dos políticos insensíveis e desumanos, das cracolândias da vida, da poluição das nossas cachoeiras e rios.
Senhor, obrigado porque tive 365 dias para falar a verdade e usar a minha língua para promover a paz. Hoje tenho apenas algumas horas para reparar os erros cometidos por palavras e atos.
Senhor, obrigado porque tive 365 dias para silenciar e contemplar o brilho das estrelas, o canto dos pássaros, o verde das serras, matas e florestas. Hoje tenho apenas algumas horas para olhar a beleza da natureza e do universo em minha volta
Senhor, obrigado porque tive 365 dias para te encontrar. Hoje tenho apenas algumas horas para te contemplar no choro da mãe ao ver o corpo do seu filho ensanguentado estendido no chão, do jovem aidético, do ancião abandonado em nossas ruas e abrigos, das crianças dormindo nas calçadas, dos mendigos comendo o resto da minha mesa, dos jovens drogados, desempregados, deprimidos e solitários clamando por amor, compreensão e vida.
Sim, obrigado meu Deus. Não sei se estarei aqui nas últimas horas de 2011, mas uma certeza eu tenho. Hoje tenho apenas algumas horas para reparar todos os erros cometidos neste ano, juntar os pedaços dos vasos quebrados do perdão, da alegria, da justiça social, da convivência familiar, da humildade e do bom humor. Hoje tenho apenas algumas horas.., algumas horas...
Frei Petrônio de Miranda, O.Carm - Frade Carmelita da Ordem do Carmo
Convento do Carmo, São Paulo, SP. 31 de dezembro-2010.
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