Eis a parte final da homilia do Papa feita ontem, dia 06 de janeiro de 2011.
O texto foi publicado pelo jornal L’Osservatore Romano, 07-01-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"E chegamos assim à estrela. Que tipo de estrela era aquela que os Magos viram e seguiram? Ao longo dos séculos, essa pergunta foi objeto de discussões entre os astrônomos. Kepler, por exemplo, considerava que se tratava de uma "nova" ou de uma "supernova", isto é, e uma daquelas estrelas que normalmente emanam uma luz fraca, mas que podem ter de repente uma violenta explosão interna que produz uma luz excepcional.
Sim, coisas interessantes, mas que não nos guiam ao que é essencial para compreender aquela estrela. Devemos voltar-nos para o fato de que aqueles homens buscavam os traços de Deus; buscavam ler a sua "assinatura" na criação; sabiam que "os céus narram a glória de Deus" (Sal 19, 2); isto é, estavam certos de que Deus pode ser entrevisto na criação.
Mas, como homens sábios, sabiam também que não é com um telescópio qualquer, mas sim com os olhos profundos da razão em busca do sentido último da realidade e com o desejo de Deus motivado pela fé que é possível encontrá-Lo, ou melhor, que se torna possível que Deus se aproxime de nós.
O universo não é o resultado do acaso, como alguns querem nos fazer crer. Contemplando-o, somos convidados a ler nele algo profundo: a sabedoria do Criador, a inexaurível imaginação de Deus, o seu infinito amor por nós.
Não devemos deixar que nossa mente seja limitada por teorias que chegam sempre só até certo ponto e que – se olharmos bem – não estão de fato em concorrência com a fé, mas não chegam a explicar o sentido último da realidade. Na beleza do mundo, no seu mistério, na sua grandeza e na sua racionalidade, não podemos deixar de ler a racionalidade eterna e não podemos não nos deixar guiar por ela ao único Deus, criador do céu e da terra. Se tivermos esse olhar, veremos que Aquele que criou o mundo e Aquele que nasceu em uma gruta em Belém e continua habitando em meio a nós na Eucaristia é o próprio Deus vivo, que nos interpela, nos ama, deseja conduzir-nos à vida eterna.
Herodes, os especialistas nas Escrituras, a estrela. Mas sigamos o caminho dos Magos que chegam a Jerusalém. Sobre a grande cidade, a estrela desaparece, não se vê mais. O que isso significa? Também nesse caso devemos ler o sinal em profundidade. Para aqueles homens, era lógico buscar o novo rei no palácio real, onde se encontravam os sábios conselheiros da corte. Mas, provavelmente com o seu espanto, tiveram que constatar que aquele recém nascido não se encontrava nos lugares do poder e da cultura, mesmo que nesses lugares tenham sido oferecidas preciosas informações sobre Ele. Deram-se conta, pelo contrário, que, às vezes, o poder, também o do conhecimento, bloqueia o caminho ao encontro com aquele Menino.
A estrela os guiou então a Belém, uma pequena cidade; guiou-os entre os pobres, entre os humildes, para encontrar o Rei do mundo. Os critérios de Deus são diferentes daqueles dos homens; Deus não se manifesta no poder deste mundo, mas sim na humildade do seu amor, aquele amor que pede à nossa liberdade para ser acolhido para nos transformar e nos tornar capazes de chegar Àquele que é o Amor. Mas também para nós as coisas não são tão diferentes de como eram para os Magos. Se nos fosse pedido o nosso parecer sobre como Deus deveria salvar o mundo, talvez respondêssemos que ele deveria ter manifestado todo o seu poder para dar ao mundo um sistema econômico mais justo, em que todos pudessem ter tudo o que quisessem. Na realidade, isso seria uma espécie de violência contra o homem, porque o privaria de elementos fundamentais que o caracterizam. De fato, não seriam chamados em causa nem a nossa liberdade, nem o nosso amor.
O poder de Deus manifesta-se de modo totalmente diferente: em Belém, onde encontramos a aparente impotência do seu amor. E é para lá que nós devemos ir, e é lá que reencontramos a estrela de Deus.
Assim, parece-nos bem claro também um último elemento importante do episódio dos Magos: a linguagem da criação nos permite percorrer um bom trecho de caminho rumo a Deus, mas não nos dá a luz definitiva. No fim, para os Magos, foi indispensável escutar a voz das Sagradas Escrituras: só elas podiam indicar-lhes o caminho. É a Palavra de Deus a verdadeira estrela que, na incerteza dos discursos humanos, nos oferece o imenso esplendor da verdade divina.
Queridos irmãos e irmãs, deixemo-nos guiar pela estrela, que é a Palavra de Deus, sigamo-la na nossa vida, caminhando com a Igreja, onde a palavra montou sua tenda. A nossa estrada será sempre iluminada por uma luz que nenhum outro sinal pode nos dar. E poderemos, também nós, tornar-nos estrelas para os outros, reflexo daquela luz que Cristo fez resplandecer sobre nós. Amém.
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