sábado, 23 de outubro de 2010

BULLYING

Antes de entrar no dicionário da língua portuguesa, o bullying frequenta a escola e grupo de jovens. Estamos no campo da violência. Já se insere entre um dos maiores problemas da cidade moderna e cada vez mais no meio dos jovens. Crescente número deles pratica a violência e a sofre. As manchetes de jornal enchem-se de aventuras perigosas, criminosas praticadas por eles. E quanto mais elas se divulgam, mais a fantasia de criminosos enrustidos desperta-os para a ação.

O bullying tem assumido formas bem diferenciadas, desde agressões físicas até o desprezo e gozação de colegas por algum defeito ou procedimento ridicularizado. Esse fato merece ser considerado dos dois lados, do dos que o sofrem e do dos que o praticam contra companheiros.

A escola pública tem-se tornado o lugar principal de tal prática. Em muitos lugares, ela tem entrado em perigosa decadência. Múltiplos fatores têm-na provocado. Por trás dela, estão o Estado e a sociedade, os principais responsáveis. O Estado chama-se vontade política de investir na educação. Apesar de belos discursos, a escola pública fundamental e média tem sido descuidada, desde a contratação e remuneração de professores competentes até o desleixo com os aspectos materiais do prédio, dos utensílios. Ambiente físico degradado provoca desmando nos alunos, cuja agressividade se expande contra professores, colegas e contra tudo o que encontra diante. O bullying entra como um dos ingredientes dessa revolta dos alunos contra o desprezo por parte do Estado em relação à educação.

O dinheiro público flui facilmente para obras faraônicas e míngua na educação. O ano eleitoral oferece boa oportunidade para a sociedade reivindicar do Estado, que nos próximos meses andará pela rua na pessoa dos candidatos, o direito a uma educação de qualidade.

Fácil simplismo reduz todo o problema da educação à responsabilidade do Estado. Temos o Governo que escolhemos e que reflete nossas virtudes e defeitos, riquezas e pobrezas. A sociedade civil está na base de tudo. Ela começa na família, continua na Escola e prossegue nas outras instituições socioculturais. Elas não existem paralelas, mas mantêm relação entre si para bem e para mal. Círculo inevitável. Da família depende muito a Escola. E esta, por sua vez, reflete positiva ou negativamente na família. Nada melhor que ambas se entrosem para resolver os problemas.

As crianças vítimas ou causadoras do bullying têm na família um espaço de refazimento e de correção respectivamente. Às vezes, o problema se detecta no convívio da criança, quem sabe, em casa, isolada e de repente, jogada num grupo estranho. Cabe aos pais perceberem essa nova situação e orientarem os filhos para sadia convivência com os colegas, evitando qualquer afronta ou desrespeito a eles. E nos casos acontecidos, procurarem refazer o trauma ou a situação constrangedora.

Nos casos de bullying em grupos etários fora do mundo escolar entra de novo o papel vigilante da família e de sua força terapêutica. Só na conjugação dos esforços de Estado e sociedade civil conseguimos enfrentar os problemas de convivência no mundo infantil e juvenil.

J. B. Libanio - Padre jesuíta, escritor e teólogo. Ensina na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), em Belo Horizonte, e é vice-pároco em Vespasiano

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