quarta-feira, 9 de junho de 2010

A CRUZ E A IGREJA

"O mistério da cruz, do qual Bento XVI falou em uma homilia memorável, lembra em primeiro lugar que o homem não pode salvar a si mesmo das consequências dos seus próprios pecados: cruz que então não é tanto sinal de sofrimento e de fracasso, mas sim o símbolo mais eloquente do qual o mundo tem necessidade. Justamente porque expressa a revanche, realizada por Cristo, sobre todo mal, incluindo o último inimigo que é a morte, significando a verdadeira esperança que não desilude."

A opinião é de Giovanni Maria Vian, editor-chefe do jornal L'Osservatore Romano, 08-06-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

A visita de Bento XVI ao Chipre foi um sucesso a ser recordado, como disse o próprio Papa ao partir do país. Como sempre, são palavras escolhidas atentamente e não se referem apenas ao êxito exterior, que é inegável, da viagem, mas principalmente ao seu significado mais profundo.

O 16º itinerário internacional do pontificado – explicitamente apresentado como uma continuação da viagem à Terra Santa – foi importante, de fato, sobretudo para a grande ilha mediterrânea, que festeja o 50º aniversário de independência e ainda sofre uma divisão inatural. Assim como a própria localização da nunciatura mostrou, onde o Papa residiu nestes dias, e que está localizada na zona controlada pelos militares das Nações Unidas no coração de uma capital despedaçada.

Mas o porte da viagem, em um país ortodoxo, é histórico por causa da aproximação ulterior a uma notável e venerável Igreja irmã, que, sob a liderança do arcebispo Crisóstomo II, se comprometeu decisivamente no caminho ecumênico. Um processo interno às confissões cristãs que constitui também uma indicação em direção ao futuro em uma região – como o Oriente Médio e o Próximo – atormentada e muitas vezes ensanguentada, onde o único percurso realista para uma paz real e duradoura é o confronto a três entre cristãos, muçulmanos e judeus, apesar das explosões contínuas da violência em um estado de tensão que parece insuperável, e também diante das sombras de episódios horríveis como o massacre e o assassinato de um homem inerme, Dom Luigi Padovese, testemunha corajosa da verdade e da paz de Cristo.

É o mistério da cruz, do qual Bento XVI falou em uma homilia memorável, lembrando em primeiro lugar que o homem não pode salvar a si mesmo das consequências dos seus próprios pecados: cruz que então não é tanto sinal de sofrimento e de fracasso, mas sim o símbolo mais eloquente do qual o mundo tem necessidade. Justamente porque expressa a revanche, realizada por Cristo, sobre todo mal, incluindo o último inimigo que é a morte, significando a verdadeira esperança que não desilude.

E hoje, no Oriente Próximo e Médio – disse o Papa com a sua força mansa – todo cristão que abraça a cruz e se confia ao seu mistério irradia essa esperança, não abandonando, apesar das dificuldades e perseguições crescentes, os lugares onde a Igreja nasceu e floresceu nos primeiros séculos.

Segundo uma tradição que remonta até aos apóstolos, os católicos e os cristãos – mas também qualquer pessoas que tenha os direitos do homem no coração, começando pela liberdade de consciência e de religião – não devem se esquecer dos seus irmãos que vivem nessa parte do mundo. A eles será dedicada a próxima assembleia especial do Sínodo dos bispos, cujo documento de trabalho foi entregue pelo Papa aos representantes das comunidades católicas.

É um texto que confirma o realismo da Igreja e a sua disponibilidade para construir sociedade onde a convivência pacífica seja verdadeiramente possível. Graças ao mistério da cruz, sinal da esperança trazida por Cristo e testemunhada pela Igreja ao mundo

A opinião é de Giovanni Maria Vian, editor-chefe do jornal L'Osservatore Romano, 08-06-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

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