A possibilidade de transferência do frei Cláudio van Balen, 76, (foto) da Paróquia de Nossa Senhora do Carmo, em Belo Horizonte, tem deixado fiéis, voluntários e a população atendida pelos projetos assistenciais desenvolvidos por ele apreensivos.
O sacerdote está à frente da paróquia há 43 anos e, desde a década de 60, coordena uma rede de voluntários que oferece inúmeros serviços a comunidades carentes dos aglomerados Morro do Papagaio e Vila Acaba Mundo, na região Centro-Sul da capital.
Só em 2009, segundo números da paróquia, 75 mil pessoas foram atendidas pelos programas sociais da igreja. Os trabalhos vão desde assistências médica, odontológica e jurídica a projetos educacionais, como funcionamento de uma biblioteca comunitária. Atualmente, 900 voluntários atuam na paróquia.
A transferência de frei Cláudio, que pertence à Ordem dos Carmelitas, começou a ser cogitada no final do ano passado, mas, nos últimos dias, a preocupação da comunidade aumentou com a perspectiva do anúncio da decisão final sobre o caso.
Oficialmente, a explicação para a saída de frei Cláudio da Paróquia de Nossa Senhora do Carmo é que se trata de um procedimento de rotina na Ordem, que teria como critério a rotatividade entre os religiosos.
No entanto, nos bastidores, a informação que circula é que o comportamento considerado moderno do pároco não estaria agradando a lideranças católicas em Minas. Uma fonte ouvida pela reportagem informou que as atitudes de frei Cláudio teriam gerado incômodo também na Cúria Metropolitana da Arquidiocese de Belo Horizonte. O próprio arcebispo Dom Walmor Oliveira de Azevedo teria feito um pedido ao Vaticano para intervir na situação. Por pertencer à Ordem dos Carmelitas, a Arquidiocese não tem competência para pedir a transferência do sacerdote.
A decisão agora caberá aos freis Felisberto Caldeira e Fernando Romeral, superiores do frei na congregação. Ontem, eles não foram encontrados para falar sobre o caso.
A Cúria Metropolitana nega que haja retaliação ao frei. "Não há ação da Arquidiocese contra o frei Cláudio ou de qualquer outro frade carmelita", informa a instituição, em comunicado.
Procurado pela reportagem, frei Cláudio não quis comentar a decisão. Ele disse que só irá se manifestar na próxima semana, quando uma reunião com os superiores definirá seu futuro.
O religioso, de nacionalidade holandesa, é considerado audacioso por adotar liturgias próprias e um diálogo franco com a comunidade. "Ele sempre teve o pensamento muito avançado sobre o significado da fé e da crença. Por causa disso, houve uma empatia da comunidade", explicou o amigo e voluntário das obras paroquiais, Murilo Carneiro.
Resistência à medida é grande
As missas celebradas pelo frei Cláudio na igreja de Nossa Senhora do Carmo, no bairro Sion, são quase sempre lotadas. Aos domingos à noite, uma multidão de fiéis segue para a paróquia para acompanhar a liturgia.
Entre eles está Cyle Gallone, que ontem esteve na igreja. Para ela, a tentativa de retirada do pároco vai enfrentar a resistência e mobilização dos fiéis.
A Ordem dos Carmelitas não informou para onde frei Cláudio seria enviado. O religioso entrou no seminário aos 14 anos e, aos 17, chegou ao Brasil para completar os estudos.
A reportagem é de Thiago Nogueira e publicada pelo jornal O Tempo, 08-05-2010.
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