sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O VATICANO FAZ ATO DE ‘DESAGRAVO’ A GALILEU

Por ocasião do Ano da Astronomia e para fazer a memória de Galileu, o Vaticano apresentou a exposição Astrum 2009, que mostra 130 objetos, entre eles o manuscrito Sidereus Nuncius, do famoso astrônomo condenado pela Inquisição, e uma cópia do primeiro telescópio que usou.

A reportagem está publicada no sítio espanhol Perdiodista Digital, 13-10-2009. A tradução é do Cepat.

Astrum 2009. Astronomia e instrumentos. O patrimônio histórico italiano 400 anos depois de Galileu abrirá suas portas no próximo dia 16 nos Museus Vaticanos, onde permanecerá até 16 de janeiro de 2010 e inclui livros, arquivos e instrumentos procedentes da Specola Vaticana, dos Museus Vaticanos e do Instituto Nacional Italiano de Astrofísica (INAF).

Tommaso Maccacaro, presidente do INAF – que engloba os 13 observatórios astronômicos –, afirmou durante a apresentação que a exposição é única em seu gênero, já que se abre com uma seção dedicada aos instrumentos existentes antes que Galileu começasse a observar a lua, “quando todas as observações – disse – eram feitas apenas olhando, até chegar a complexos e imponentes aparelhos da atualidade”.

Maccacaro acrescentou que os objetos que serão expostos mostram a importância que a astronomia teve no progresso humano “e nos fazem compreender que a terra e o homem não ocupam uma posição ou um papel privilegiado no universo”. “São as observações de Galileu em 1609 que validaram o modelo copernicano e a consequente revolução na concepção do mundo”, precisou, referindo-se à teoria de Copérnico, que defendia que era o Sol, e não a Terra, o centro do Universo, como se pensava na sua época.

A exposição está dividida em sete seções: os instrumentos da astronomia antes do telescópio, os telescópios de Galileu, a óptica italiana do século XVII, os primeiros observatórios italianos, astronomia e cartografia celestial, o nascimento da astrofísica e “não apenas da astronomia”.

Durante o percurso se pode ver mapas, modelos de sistemas de Ptolomeu e Copérnico, manuscritos, quadros, fotografias, códices, livros e estátuas. Destaca-se o manuscrito “Sidereus Nuncius”, de Galileu, conservado na Biblioteca Nacional Central de Florença, escrito pelo astrônomo em 1610 e no qual expôs as primeiras sensações descobertas com o telescópio, assim como o livro "De revolutionibus orbium celestium", de Copérnico (1473-1543).

Também se destaca uma réplica do primeiro telescópio usado por Galileu. O original se encontra em Florença e faz parte de outra exposição sobre o astrônomo pisano no 400º aniversário dos primeiros descobrimentos astronômicos. Ainda são expostos relógios astronômicos de 1725, um telescópio equatorial de 1856, um pêndulo cronógrafo de 1860, um telescópio de Joseph Fraunhofer, de 1822, assim como um globo celestial do século III depois de Cristo e outro de Vincenzo Maria Coronelli, de 1696.

O arcebispo Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, ressaltou durante a apresentação a figura de Galileu e disse que no Vaticano “há um novo interesse” pelo astrônomo devido em parte à nova documentação encontrada, que permite analisá-lo com objetividade e serenidade. Ravasi já disse em meses passados que o Vaticano considera que depois da reabilitação de Galileu Galilei por João Paulo II em 1992 os tempos “estão maduros” para uma nova revisão de sua figura, “a quem a Igreja deseja honrar”. “Deve-se olhar para o futuro”, acrescentou o prelado, que relançou o diálogo entre fé e ciência, entre fé e razão, afirmando que “não é possível que possam caminhar separadas, sem que se levem em conta mutuamente”.

Galileu Galilei foi condenado pela Inquisição por haver aderido à teoria de Copérnico, que sustentava que era o Sol, e não a Terra, o centro do universo, como se pensava na época. O julgamento, realizado a partir das denúncias do dominicano Tommaso Caccini, em 1616, foi concluído em 22 de junho de 1633, quando foi obrigado a abjurar de seus conhecimentos.

Em 31 de outubro de 1992, nos 350 anos de sua morte, João Paulo II o reabilitou solenemente e criticou os erros dos teólogos da época que fundamentaram a condenação, sem desqualificar expressamente o tribunal que o sentenciou. Em um discurso de 13 páginas, lido na Sala Régia do Palácio Apostólico, o Papa Wojtyla o qualificou como “físico genial” e “crente sincero”, “que se mostrou mais perspicaz na interpretação da Escritura que seus adversários teólogos”.

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