quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A Igreja na luta contra a Aids. ''Há uma tendência de nos tornarmos mais realistas''

Professor de teologia da PUCRS, o frei Luiz Carlos Susin interpreta a nova campanha da CNBB contra a Aids como a expressão de uma igreja que, embora ainda não admita o uso da camisinha, procura deixar essa discussão em segundo plano. A prioridade, em vez do debate moral sobre o preservativo, é o socorro aos afetados pelo vírus da aids.

A entrevista é do jornal Zero Hora, 22-10-2009.

Eis a entrevista.

O senhor acredita que a campanha da CNBB marca uma nova postura da Igreja no Brasil?
Ela procura exercer sua responsabilidade no âmbito social. Nós temos uma pastoral de DST e aids, cuja sede é em Porto Alegre. Existem normas de comportamento de sexualidade da igreja, mas não impede que, dentro da realidade, ela exerça aquilo que deve ser feito. Isso sempre pautou o trabalho dessa pastoral.

Mas à medida que a CNBB encampa a prevenção de forma mais ativa, isso é significativo?
É significativo, nessa área há muito trabalho em conjunto com o Ministério da Saúde.

Poderia representar uma flexibilização em relação à sexualidade e ao uso da camisinha?
Nota que ela (a igreja católica) não entra nesse tema, entra no diagnóstico, no tratamento. Não entra na forma do comportamento preventivo. A Igreja mantém um certo ideal de comportamento preventivo. É uma postura mais idealista, que aponta mais para cima. Mas, quando as coisas acontecem mais embaixo, ela é mais realista no sentido de buscar, com realismo, o que deve ser feito.

O senhor se refere a quem trabalha diretamente com as populações afetadas?
Sim, no caso da pastoral da Aids, é reconhecido isso.
Um estudo indicou que os freis e padres que trabalham na ponta tendem a ser mais flexíveis com as questões dogmáticas...
É, podem. Também há uma tendência de a gente se tornar mais realista em termos de prevenção.

A tendência é de que esse realismo se torne mais institucional?
Pela experiência que eu tenho, a própria população deverá se tornar mais madura para resolver esses problemas de ordem de prevenção. Não está resolvido, mas está menos calamitoso do que há alguns anos. Há mais maturidade em lidar com isso. Por isso, não se tem discutido tanto como em outros tempos.

Como ou quanto a camisinha poderia representar um pecado grave?
É, a própria Igreja prefere não entrar muito nessa discussão.

Não aprovar, mas não fazer uma condenação tão incisiva?
A Igreja tem a posição dela, e prefere agir no socorro ao que ocorre na realidade.

IMPRIMA ESTE TEXTO

Nenhum comentário: