Alguns veículos de imprensa italianos falam o contrário, mas as autoridades do Vaticano negaram que qualquer nova "reforma da reforma" da liturgia católica, como o fim da distribuição da Comunhão na mão ou que os padres fiquem de costas para o povo durante a missa, esteja em andamento.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no sítio National Catholic Reporter, 14-09-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Um fonte vaticana que não quis se identificar contou ao NCR que, "especialmente no mundo de fala inglesa, o Papa Bento XVI sabe que, agora, não é o momento para uma reviravolta, já que temos o novo Missal Romano a caminho".
O Missal Romano é a coleção de orações e outros textos para a missa. Um nova tradução em inglês, que emprega uma linguagem mais próxima do latim original como "E com teu espírito" [And with your spirit] em vez de "E também contigo" [And also with you] [na versão brasileira, "Ele está no meio de nós"], em resposta a "O Senhor esteja convosco", foi utilizada durante muitos anos. Espera-se que os bispos dos EUA votem em novembro sobre os últimos componentes do texto que ainda restam.
Informações sobre uma "reforma da reforma" litúrgica surgiram primeiro no jornal italiano Il Giornale no dia 22 de agosto, em um artigo do respeitado vaticanista Andrea Tornielli. O artigo indicava que a Congregação para o Culto Divino, o escritório do Vaticano para a orientação litúrgica, decidiu recomendar em uma assembleia plenária na metade de março uma série de medidas a Bento XVI, incluindo que a comunhão na língua devia ser considerada como uma prática "normal", e a comunhão nas mãos, como "excepcional".
Além disso, o artigo afirmava que a congregação estava considerando o fato de recomendar que os padres celebrassem a missa voltados para o Leste, com suas costas voltadas para o povo, pelo menos no momento em que a hóstia eucarística é consagrada. O texto dizia ainda que a congregação também recomendava um maior uso do latim na liturgia, não apenas no antigo rito tridentino, mas também no novo rito comumente celebrado nas paróquias em todo o mundo.
Tais mudanças foram informalmente apelidadas de "reforma da reforma", referindo-se a uma reversão de uma onda anterior de mudanças litúrgicas progressistas associadas ao Concílio Vaticano II (1962-1965), como o fato de o padre que celebra a missa estar voltado para o povo e usando línguas vernáculas em vez do latim.
No dia 24 de agosto, um porta-voz do Vaticano negou efetivamente a nota do jornal Il Giornale, dizendo que, "neste momento, não há nenhuma proposta institucional no que se refere à mudanças dos livros litúrgicos atualmente em uso". O secretário de Estado, cardeal Tarcisio Bertone, a autoridade número 2 depois do Papa, desmentiu a reportagem como "fantasias" em uma entrevista ao jornal do Vaticano.
Autoridades com conhecimento sobre a recente assembleia plenária da Congregação para o Culto Divino confirmaram essas negativas.
"Eu vi as propostas", disse uma autoridade ao NCR. "Não há nada sobre Comunhão na mão, nada sobre a orientação de um padre na missa".
Pelo contrário, disse a autoridade, as propostas pedem "um novo olhar sobre a prenotanda nos vários livros litúrgicos", ou seja, os prefácios que traçam as regras básicas para a prática litúrgica. O objetivo, disse a autoridade, é "eliminar algumas adaptações inapropriadas" e "encorajar uma maior reverência na liturgia".
No dia 29 de agosto, Tornielli postou um texto em seu blog dizendo que, enquanto as mudanças que a sua reportagem fazia alusão podiam não ser "iminentes", ele continuava afirmando, porém, que a Congregação para o Culto Divino está se movendo nessa direção, mesmo que o trabalho "esteja só no começo".
Fontes no Vaticano disseram ao NCR que, enquanto há pouca indicação oficial para se poder determinar esses movimento, um "curinga" nessa equação pode ser o novo prefeito da congregação, o cardeal espanhol Antonio Cañizares, indicado ao posto em dezembro.
Até agora, disseram as fontes, Cañizares adquiriu uma reputação de nem sempre compartilhar os detalhes de seu pensamento com sua equipe e conselheiros. Em parte, isso se deve ao fato de o seu italiano ser limitado (assim como o seu inglês), dificultando-lhe, às vezes, comunicar sutilezas.
Cañizares possui fortes laços com Bento XVI, tendo sido membro da Congregação para a Doutrina da Fé desde 1995, enquanto o então cardeal Joseph Ratzinger ainda era o prefeito. Com doutorado em teologia, Cañizares foi mencionado, em uma época, como o possível sucessor de Ratzinger para a congregação doutrinal.
É possível, disseram as fontes, que Cañizares tenha uma visão para as reformas litúrgicas adicionais que ainda não foi compartilhada com a equipe ou expressa em documentos oficiais. Até o momento, porém, as fontes descrevem um consenso de que, com uma nova tradução do missão prestes a surgir, este não é o momento para outras mudanças drásticas.
Enquanto isso, a conferência do Comitê sobre o Culto Divino dos bispos dos EUA inaugurou uma página eletrônica para ajudar a preparar o novo missal [www.usccb.org/romanmissal].
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