Artigo escrito por Frei Tito de Alencar e publicado no "Front Brésilien d'Information", n°3 - agosto, 1971
Fr. Tito de Alencar era um religioso dominicano que esteve preso e foi libertado com 69 outros revolucionários brasileiros em troca do Embaixador da Suíça no Brasil, cujo sequestro fora organizado pelo Comando de Juarez de Brito da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).
No dia 10 de agosto de 1974, um estranho silêncio pairou sob o céu azul do verão francês, envolvendo folhas, ventos, flores e pássaros. Nada se movia. Entre o céu e a terra, sob a copa de um álamo, balançava o corpo de Frei Tito, dependurado numa corda.
O suicídio foi o seu gesto de protesto e de reencontro, do outro lado da vida, da unidade perdida. Deixara registrado nas páginas de sua Bíblia que “é melhor morrer do que perder a vida”
Situação da igreja no Brasil
Fr. Tito de Alencar era um religioso dominicano que esteve preso e foi libertado com 69 outros revolucionários brasileiros em troca do Embaixador da Suíça no Brasil, cujo sequestro fora organizado pelo Comando de Juarez de Brito da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).
No dia 10 de agosto de 1974, um estranho silêncio pairou sob o céu azul do verão francês, envolvendo folhas, ventos, flores e pássaros. Nada se movia. Entre o céu e a terra, sob a copa de um álamo, balançava o corpo de Frei Tito, dependurado numa corda.
O suicídio foi o seu gesto de protesto e de reencontro, do outro lado da vida, da unidade perdida. Deixara registrado nas páginas de sua Bíblia que “é melhor morrer do que perder a vida”
Situação da igreja no Brasil
"A jovem Igreja do Brasil é um produto da missão profética de João XXIII. Depois de muitos séculos de conservadorismo e de falsas tradições, a Igreja do Brasil mostra sinais de uma profunda transformação que nasce de uma consciência evangélica que se desenvolveu nos homens em coerência com sua missão terrena. Nós não existimos para salvar as almas, mas para salvar as criaturas, os seres humanos vivos, concretos, no tempo e no espaço bem definidos. Temos uma compreensão histórica profunda de Jesus. De todos os debates teológicos conciliares, é sem dúvida o referente à história da salvação que influenciou de modo decisivo nossa concepção de Igreja, da sua razão de ser, e de sua missão: A história da libertação do povo hebreu, eleito por Javé para tornar-se povo de Deus. É esta idéia de um "Povo de Deus" que orienta do ponto de vista teológico as transformações da Igreja no Brasil. Para nós, quem é o povo de Deus, concretamente? - São os trabalhadores, os operários, os explorados, os oprimidos, enfim toda a massa imensa que tem uma condição de vida desumana. Entre tais, Jesus toma o nome de Zeferino ou Antônio, um qualquer.
Vivemos em um país onde reina o analfabetismo, a miséria e a injustiça: limitações que se desenvolveram ainda mais nos últimos anos. O índice do desemprego cresceu geometricamente e os desequilíbrios sociais nos estados do Nordeste aumentaram ainda mais com as tentativas de implantação da indústria. As secas periódicas, por sua vez, aprofundam ainda mais a miséria do povo rural onde o imperialismo mantém o homem isolado, vítima secular da estrutura agrária primitiva.
A realidade social impôs um problema aos Bispos e à Igreja. Há dez anos os sacerdotes de todas as regiões do país procuram, na perspectiva de um desenvolvimento humano e justo, uma solução mais adequada dos problemas sociais.
Somos herdeiros de quatro séculos e meio de latifúndios e de colonialismo. Comprometemo-nos de um modo consciente com a luta pelo desenvolvimento econômico e social do país, sabendo que a solução de nossas calamidades sociais deve ser profunda e radical. De que serviria remendar um trapo? É preciso lutar por uma nova sociedade.
O estado militar, instaurado pelo golpe de estado de 1964, não assumiu uma política de transformação social; bem ao contrário, favoreceu o agravamento da miséria do povo, a partir do momento em que escolheu um modelo de desenvolvimento capitalista, repressivo, fundado sobre uma tecnocracia militar, que esmaga os movimentos populares, que instala o regime de força mantido pelos decretos institucionais.
O cristianismo não se pode calar diante das injustiças, pois calar é trair. Seu dever é tornar-se sal da terra, luz do mundo.
O movimento universitário foi um dos primeiros a se erguer contra o regime de força que se instalava. Por ocasião da transferência do Arcebispo Dom Helder Câmara do Rio de Janeiro para Recife (Nordeste), criamos uma ofensiva para denunciar a arbitrariedade do poder jurídico e militar. Em 1967, a Ação Católica Operária do Nordeste distribuiu um documento denunciando o nível de vida dos operários da região que recebiam um salário de fome. Em 1968, Dom Cândido Padin publicou um documento onde analisava a doutrina da Segurança Nacional, dos militares, à luz da mensagem evangélica. Nesse documento encontra-se excelente crítica à concepção pseudo-positivista dos grupos militares brasileiros. Os bispos do Nordeste se organizaram para a publicação de uma série de documentos que testemunham uma maturidade política e cristã notáveis, em defesa dos direitos do homem. “Ouvi os clamores do povo” é o bem escolhido título desse pronunciamento.
Hoje, um terço da Igreja do Brasil se compromete: nós renunciamos a uma revolução cristã e estamos decididos a participar na luta do povo por seus direitos fundamentais. Para essa luta estão convidados todos os que desejam um mundo mais justo e mais humano.
O atual regime brasileiro persegue a Igreja em razão de sua consideração pelo Concílio. As decisões da Encíclica “Gaudium et Spes”, e da reunião dos Bispos da América Latina em Medellín, Colômbia, são reprimidas de modo violento pelo regime do General Médici, através dos Órgãos repressivos, tais como CENIMAR (Centro de Informações da Marinha), e CODI (Centro de Operações da Defesa Interna). Os militares brasileiros, isto é os oficiais mais graduados, se encarregam de aplicar os choques elétricos e a tortura aos sacerdotes de muitas paróquias do Brasil.
Mais de 50 párocos foram torturados. Um deles, Pe. Henrique Pereira, do Recife, foi assassinado pelo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) da cidade.
Vivemos em um país onde reina o analfabetismo, a miséria e a injustiça: limitações que se desenvolveram ainda mais nos últimos anos. O índice do desemprego cresceu geometricamente e os desequilíbrios sociais nos estados do Nordeste aumentaram ainda mais com as tentativas de implantação da indústria. As secas periódicas, por sua vez, aprofundam ainda mais a miséria do povo rural onde o imperialismo mantém o homem isolado, vítima secular da estrutura agrária primitiva.
A realidade social impôs um problema aos Bispos e à Igreja. Há dez anos os sacerdotes de todas as regiões do país procuram, na perspectiva de um desenvolvimento humano e justo, uma solução mais adequada dos problemas sociais.
Somos herdeiros de quatro séculos e meio de latifúndios e de colonialismo. Comprometemo-nos de um modo consciente com a luta pelo desenvolvimento econômico e social do país, sabendo que a solução de nossas calamidades sociais deve ser profunda e radical. De que serviria remendar um trapo? É preciso lutar por uma nova sociedade.
O estado militar, instaurado pelo golpe de estado de 1964, não assumiu uma política de transformação social; bem ao contrário, favoreceu o agravamento da miséria do povo, a partir do momento em que escolheu um modelo de desenvolvimento capitalista, repressivo, fundado sobre uma tecnocracia militar, que esmaga os movimentos populares, que instala o regime de força mantido pelos decretos institucionais.
O cristianismo não se pode calar diante das injustiças, pois calar é trair. Seu dever é tornar-se sal da terra, luz do mundo.
O movimento universitário foi um dos primeiros a se erguer contra o regime de força que se instalava. Por ocasião da transferência do Arcebispo Dom Helder Câmara do Rio de Janeiro para Recife (Nordeste), criamos uma ofensiva para denunciar a arbitrariedade do poder jurídico e militar. Em 1967, a Ação Católica Operária do Nordeste distribuiu um documento denunciando o nível de vida dos operários da região que recebiam um salário de fome. Em 1968, Dom Cândido Padin publicou um documento onde analisava a doutrina da Segurança Nacional, dos militares, à luz da mensagem evangélica. Nesse documento encontra-se excelente crítica à concepção pseudo-positivista dos grupos militares brasileiros. Os bispos do Nordeste se organizaram para a publicação de uma série de documentos que testemunham uma maturidade política e cristã notáveis, em defesa dos direitos do homem. “Ouvi os clamores do povo” é o bem escolhido título desse pronunciamento.
Hoje, um terço da Igreja do Brasil se compromete: nós renunciamos a uma revolução cristã e estamos decididos a participar na luta do povo por seus direitos fundamentais. Para essa luta estão convidados todos os que desejam um mundo mais justo e mais humano.
O atual regime brasileiro persegue a Igreja em razão de sua consideração pelo Concílio. As decisões da Encíclica “Gaudium et Spes”, e da reunião dos Bispos da América Latina em Medellín, Colômbia, são reprimidas de modo violento pelo regime do General Médici, através dos Órgãos repressivos, tais como CENIMAR (Centro de Informações da Marinha), e CODI (Centro de Operações da Defesa Interna). Os militares brasileiros, isto é os oficiais mais graduados, se encarregam de aplicar os choques elétricos e a tortura aos sacerdotes de muitas paróquias do Brasil.
Mais de 50 párocos foram torturados. Um deles, Pe. Henrique Pereira, do Recife, foi assassinado pelo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) da cidade.
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