quinta-feira, 24 de março de 2011

AS PALAVRAS QUE MATARAM ROMERO

No dia anterior (23 de março), sabendo-se já perseguido e em perigo, optou por dar o passo dos mártires: o de não se acovardar, o de seguir cantando as verdades do barqueiro. E por isso o mataram.

Estas foram, entre muitas outras, as palavras que mataram Romero e que, 31 anos depois, continuam a arrepiar os cabelos. Oxalá, logo possamos escrever, com letras de ouro – e também de barro – as palavras que beatificam o Santo Romero da América:

“Já sei que há muitos que se escandalizam com estas palavras e querem acusá-las de que deixaram a pregação do Evangelho para se meter na política. Mas eu não aceito essa acusação, e faço um esforço para que tudo o que o Concílio Vaticano II, as reuniões de Medellín e de Puebla quiseram impulsionar, não fique apenas no papel e seja estudado teoricamente, mas que o vivamos e o traduzamos nesta conflitiva realidade de pregar como se deve o Evangelho para o nosso povo. Por isso, peço ao Senhor durante toda a semana, enquanto vou recolhendo o clamor do povo e a dor de tanto crime, a ignomínia de tanta violência, que me dê a palavra oportuna para consolar, para denunciar, para chamar ao arrependimento, e mesmo que siga sendo uma voz que clama no deserto, sei que a Igreja está fazendo o esforço para cumprir com sua missão.

Eu gostaria de fazer um apelo muito especial aos homens do Exército e, concretamente, às bases da Guarda Nacional, da polícia, dos quartéis. Irmãos, vocês são do nosso próprio povo, vocês matam os seus próprios irmãos camponeses, e, diante de uma ordem de matar dada por um homem, deve prevalecer a Lei de Deus, que disse: ‘Não matar’. Nenhum soldado é obrigado a obedecer a uma ordem contra a Lei de Deus. Uma lei imoral, ninguém precisa cumprir. Já é hora de recuperarem a consciência e obedecerem antes à sua consciência que à ordem do pecado. A Igreja, defensora dos direitos de Deus, da Lei de Deus, da dignidade humana, da pessoa, não pode ficar calada diante de tanta abominação. Queremos que o Governo leve a sério que para nada servem as reformas se forem manchadas com tanto sangue. Em nome de Deus, pois, e em nome deste sofrido povo, cujos lamentos sobem ao céu cada dia mais tumultuosos, lhes suplico, lhes rogo, lhes ordeno, em nome de Deus: cesse a repressão!”

A reportagem é de Jesús Bastante e está publicada no sítio espanhol Religión Digital, 23-03-2011. A tradução é do Cepat.

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